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Ficar de mãos dadas sincroniza cérebros e reduz percepção da dor

Por Ana Carolina Leonardi

Para tomar vacina. Durante o parto. Antes de um diagnóstico importante. O ser humano é um bicho esquisito: em situações de dor e medo, nós instintivamente procuramos a mão de uma pessoa para apertar.

Já na barriga desenvolvemos o reflexo de agarrar tudo que toca a palma da mão – por isso, gêmeos podem ser vistos de mãos dadas no útero – e, na vida adulta, dar as mãos permanece profundamente associado à sensação de segurança e conforto.

Mas, além de ser bonitinho, que efeito fisiológico o ato de dar as mãos pode produzir? Os pesquisadores do Instituto de Ciência Cognitiva da Universidade do Colorado em Boulder resolveram investigar o que acontece no cérebro.

Eles reuniram 22 casais heterossexuais jovens. Todos foram equipados com toucas de eletroencefalograma, cheias de sensores para monitorar a atividade cerebral. Cada casal foi exposto a alguns segundos de diferentes cenários: sentados juntos, mas sem encostar; sentados em salas separadas; e sentados juntos de mãos dadas.

Cada teste durou dois minutos. Aí, os cientistas incluíram um estímulo doloroso: uma barra de metal era aquecida a 43ºC, 45ºC e 47ºC graus e pressionada contra o braço das participantes mulheres por 7 segundos. Elas tinham que avaliar a intensidade da dor de 0 (sem dor) a 100 (a pior dor imaginável).

Os pesquisadores calcularam a temperatura que daria uma dor moderada, com “intensidade 60”, sem avisar as participantes. E aí pressionaram a barra por dois minutos seguidos, naquelas três mesmas configurações (juntos com o parceiro, separada do parceiro, dando as mãos para o parceiro). A cada rodada, elas tinham que dizer o quanto de dor estavam sentindo.

Ao final do experimento, os cientistas analisaram os dados do eletroencefalograma. A primeira coisa que perceberam é que quanto mais próximo o casal estava, mais similar era o padrão de ondas cerebrais detectado pelo exame, especialmente quando havia dor envolvida.

Esse fenômeno é chamado de “sincronização interpessoal”, e engloba não só ondas cerebrais, mas batimentos cardíacos e o ritmo da respiração – quando o organismo de uma pessoa começa a espelhar fisiologicamente as características de quem está por perto.

Essa sincronia atingia o ápice quando o casal estava de mãos dadas. Cruzando o eletroencefalograma com a percepção de dor, os pesquisadores perceberam que quanto mais similares as ondas cerebrais, menor era a dor relatada pelas participantes. Os menores níveis de dor foram relatados no estudo quando os casais estavam dando as mãos.

Os cientistas ainda não sabem explicar a conexão entre toque, ondas cerebrais e percepção da dor. Mas, focando só no toque, outras pesquisas dão uma boa ideia do que acontece no organismo.

O toque pele a pele entre seres humanos é um dos grandes gatilhos para a produção de oxitocina, o famoso “hormônio do amor”. Uma das características da oxitocina é reduzir sentimentos de ansiedade e dor, por diminuir os níveis de hormônios de estresse como o cortisol. É superútil para mães de recém-nascidos, que são invadidas por uma enxurrada de oxitocina durante o parto e depois, quando sentem o cheiro e encostam nos bebês.

Pode sair encostando em qualquer um, se quiser: até segurar a mão de estranhos tem efeito calmante em situações de estresse. Mas se quiser uma eficácia significativamente maior (e não tiver nenhum filho recém-nascido para segurar na altura do seu nariz), a melhor opção é agarrar a mão de alguém que você ama. Pelo menos até a dor passar.

Imagem de capa: A StockStudio/Shutterstock

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