O construtor civil Agnaldo José de Oliveira, de 47 anos, saiu de Joinville (SC) e pedalou por 2.970 km em uma “cargueira” até chegar ao distrito Vermelho, na cidade de Ilha do Pontal, em Lagoa Grande (PE). O objetivo desta longa jornada? Reencontrar o pai, seu Zé do Pífano, que não via desde que tinha um ano de idade.
Seu Zé do Pífano, figura conhecida na cidade pernambucana situada a 662 km de Recife, recebeu o filho com festa em seu lote na comunidade ribeirinha em que vive. Desde a chegada de Agnaldo, ele divide sua rotina entre as atividades de costume, nos cuidados com a roça e a casa, e os festejos. É churrasco no domingo para reunir toda a família, roda de música nos intervalos de trabalho e muito falatório.
Agnaldo chegou de surpresa à casa do pai, sem ter feito nenhum contato prévio. Ele tinha como pista apenas o nome do pai e da comunidade em que ele residiria. Assim que chegou às margens do Velho Chico, começou a pedir ajuda. “Me leva pra encontrar meu pai, José Inácio de Oliveira”, dizia e ficava sem respostas dos mais desconfiados. Até que um dos moradores abordados retrucou: “Sabe com quem você está falando? Pois, eu sou seu irmão”. Tratava-se de João José da Conceição Oliveira, de 27 anos, filho mais novo de seu Zé do Pífano, que trabalha nas barquinhas que fazem travessia para a ilha. O momento rendeu muitos abraços e lágrimas entre os irmãos.
O pai, que estava trabalhando na roça, sentiu o coração acelerar ao retornar para casa. “Eu tinha certeza que não ia morrer sem ver meu filho”, disse emocionado o agricultor de 72 anos.
O patriarca lembra que quis assumir os cuidados do filho, “a intenção era casar com a mãe dele, mas não deu certo”, mas a família levou o menino embora. Ele, que era viúvo e tinha sentido a morte de seus dois primeiros filhos ainda crianças, agora sentia falta de mais um que lhe foi tirado. “Quando a gente tem um filho, a gente não esquece”, sentencia seu Zé.
Agnaldo José lembra que o avô chegou a prometer realizar o sonho de encontrar seu pai, mas faleceu sem conseguir cumprir, em 1994. A próxima notícia do pai chegou somente em 2012, quando um de seus tios esteve na região para resolver um “problema de terras”. Um vídeo que recebeu do pai relatando o sonho de reencontrá-lo foi o responsável por fazer ressurgir em Agnaldo o desejo de voltar à sua terra natal.
O aposentado diz ter “recebido um recado de Deus” para fazer a viagem de bicicleta e não hesitou em acatar. Ele primeiro pretendia fazer o trajeto em cima de uma “monareta”, mas um acidente com ela em setembro deste ano fez o plano ser adiado. “Era pra eu ter trauma de bicicleta, mas nunca desisti”, conta. A solução foi pegar a estrada em cima da cargueiro cinza, velha companheira.
“Têm pessoas que olham para si próprio e falam ‘eu não consigo'”, diz Agnaldo, que é completado pelo pai com “é porque não tem fé”.
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Redação Conti Outra, com informações do TAB/UOL.
Foto de capa: Reprodução/Adriano Alves/UOL.
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