O premiado filme iraniano “Filhos do Paraíso”, dirigido por Majid Majidi, nos conta a história de dois irmãos, Ali e Zahra, provenientes de uma família humilde de Teerã.
Ali, um garoto de nove anos, numa atuação cativante de Amir Farrokh Hashemian, leva ao sapateiro o velho par de sapatos da sua irmã mais nova Zahra para reparos, mas o perde no caminho de casa. O detalhe: o sapatinho perdido é o único de Zahra.
O que falar para a sua irmã de seis anos que espera de meias o seu único par de sapatos? O que falar para os seus pais que não podem comprar outro? Assim começa a saga de Ali e Zahra.
Na tentativa de escapar da punição do pai e, ainda, preocupado com a situação de Zahra, Ali traça um plano com a irmã: eles vão revezar, sem contar a ninguém, o único par de sapatos disponível: o tênis sujo e muito velho de Ali.
A cumplicidade das duas crianças é evidente no filme, pois mesmo muito chateada Zahra aceita a proposta de Ali. Ela ama e confia no irmão.
Então, Zahra passa a usar o tênis de manhã e o devolve ao meio dia para que Ali possa ir às aulas a tarde. A partir daí, os irmãos passam por diversas aventuras. Tudo na tentativa de não revelar a verdade aos seus pais e professores, assistir às aulas e cumprir suas tarefas como se nada tivesse ocorrido.
Durante todo o filme, vemos um Ali triste, preocupado e angustiado, que não segura as lágrimas diante das suas limitações, mas que também não perde a determinação em solucionar o problema sem ter que envolver o pai.
Zahra mantém vivo o seu lado infantil. Em alguns momentos, despreocupada e sonhadora, ela acredita num final feliz. É a única que faz o irmão rir. Através dos seus olhos, o diretor Majid Majidi nos mostra a esperança.
Já o patriarca da família é mostrado como um homem bastante religioso e honesto, o que fica evidente em vários momentos do filme. Apesar de rude, também é nítida a preocupação dele com a esposa e os filhos.
A história mostra um lar com muito amor, respeito, disciplina e honestidade, o que nos faz entender que os valores familiares foram repassados para as crianças desde cedo.
A valorização da honestidade, independente das dificuldades, é destacada na película.
E assim, sem o pai desconfiar de nada, surge uma oportunidade para Ali solucionar o problema. Uma competição entre escolas em que o prêmio para o terceiro lugar é um par de sapatos.
Mesmo com o tênis velho, que não proporciona a Ali condições de competir de igual com as outras crianças, ele consegue se inscrever na corrida. E quando chega o dia, ele corre, corre e corre…
Durante a corrida, cansado e com dores, Ali busca em sua memória lembranças do amor e companheirismo da irmã. Ele está empenhado em conseguir o terceiro lugar e, consequentemente, o tão sonhado prêmio: um novo par de sapatos para Zahra.
A cena da corrida é muito emocionante, mas não é o final do filme, nem o desfecho é tão previsível assim.
Se Ali ganha a corrida ou não, consegue o par de sapatos ou não, é o que menos importa nesse filme, porque, quando os créditos sobem na tela, descobrimos que os premiados somos nós, os espectadores, pela oportunidade de assistir um dos filmes mais belos do cinema.
Em “Filhos do Paraíso” podemos ver claramente, em seus personagens, o amor e a cumplicidade. E neste ponto o filme chama a atenção e nos faz refletir.
O que seria do amor sem a cumplicidade? Saint-Exupéry afirmava: “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”.
A cumplicidade é essencial para fortalecer as relações, mas envolve esforço, confiança, companheirismo e apoio nas decisões a serem tomadas. Quando existe entre irmãos é algo extraordinário, simplesmente porque são almas que coexistem desde a idade mais tenra.
Nem toda relação entre irmãos é de cumplicidade, nem toda relação entre irmãos é de amor, mas ao escrever sobre “Filhos do Paraíso” só há espaço para falar daqueles irmãos que são unidos por sentimentos de amizade, de amor, de carinho, de cuidado e de proteção.
Os irmãos que crescem juntos, tornam-se testemunhas da vida um do outro. Não há como esconder o passado de um irmão, nem as dores do crescimento, nem as alegrias, nem os sonhos que um dia existiram.
Quem tem irmão sempre terá alguém para lembrar a criança que um dia fomos.
Segundo a escritora Tati Bernardi: “Ter um irmão é ter, para sempre, uma infância lembrada com segurança em outro coração…”
As experiências compartilhadas tornam possível para um irmão desvendar o adulto que o outro se tornou. Quando compreendemos uma pessoa é mais fácil lidarmos com ela. É mais fácil entender suas atitudes, perdoar suas falhas e torcer por seus sonhos. Esse é o papel que todo irmão deveria desempenhar na vida do outro.
Felizes os que dividem tal cumplicidade, pois se tornam companheiros de uma vida inteira.
No filme Zahra poderia simplesmente contar aos pais que Ali perdeu o seu par de sapatos, mas não o fez. Optou pelo caminho mais difícil naquele momento, mas ganhou no final: fortaleceu sua ligação de amor, confiança e companheirismo com o irmão.
E assim é na vida, muitas vezes precisamos escolher o caminho mais difícil para fortalecer os laços com quem amamos.
Para quem ficou curioso. Que tal um trechinho do filme?
Você não vai querer sair da frente da TV após dar o play nesta nova…
Será que você consegue identificar o número 257 em uma sequência aparentemente interminável de dígitos…
Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…
Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.
Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…