Darlings, o aclamado longa-metragem dirigido por Jasmeet K. Reen, é uma fusão ousada de comédia, drama e suspense que aborda um tema pesado com uma abordagem intrigante e, por vezes, inesperadamente leve. Ambientado em Mumbai, o filme segue a vida de Badru (Alia Bhatt), uma jovem mulher que, apesar dos abusos domésticos cometidos por seu marido Hamza (Vijay Varma), tenta encontrar uma maneira de sobreviver, recuperar sua dignidade e resgatar. o pouco de si mesma que ainda sobreviveu sob o controle de seu parceiro. A história se torna uma poderosa jornada de vingança, mas também de autossuperação, ao lado de sua mãe, Shamshun (Shefali Shah), que, embora tradicional, demonstra força e cumplicidade inusitada com a filha.
O filme é notável por sua habilidade de tratar um tema tão sensível – a violência doméstica – sem cair no sensacionalismo ou na tragédia constante. Reen equilibra hábil e graciosamente momentos de tensão com doses de humor ácido e absurdos cotidianos que permitem que o público se conecte com os personagens e com uma trama de forma mais profunda. Esse jogo entre o sombrio e o cômico, que inicialmente pode parecer contraditório, é, na verdade, um reflexo da complexidade da vida das personagens, especialmente das mulheres que vivem e enfrentam a violência de maneiras muitas vezes invisíveis.
Alia Bhatt entrega uma atuação impressionante, que vai muito além da fragilidade de sua personagem. Sua Badru é ao mesmo tempo vulnerável e resiliente, tornando-se uma mulher de ação quando suas opções se esgotam. A química entre Bhatt e Shefali Shah, que interpreta a mãe, é palpável e uma das forças motrizes da narrativa. Shamshun, embora enraizado em tradições, revela-se mais moderno e pragmático do que a sociedade em que vive, e sua relação com Badru é repleta de nuances, que transbordam amor, mas também pragmatismo.
Por outro lado, Vijay Varma construiu um antagonista multifacetado, que, longe de ser um vilão estereotipado, é uma representação crua e realista do que muitas mulheres enfrentam em relações abusivas. O casamento entre ele e Badru não é apenas o epicentro da violência, mas também o motor de uma reflexão mais profunda sobre o ciclo de abuso, os padrões que se repetem e a dificuldade de rompê-los.
O roteiro de Darlings também se destaca por sua habilidade em manter o suspense e a tensão, mesmo quando a história caminha para a vingança. A construção gradual dos eventos é cuidadosa, e o enredo sabe quando ceder à emoção e quando manter o mistério, conduzindo a audiência para uma catarse surpreendente e reflexiva.
Visualmente, o filme é bem cuidado, com uma paleta de cores quentes que, embora pareçam trazer uma sensação de acolhimento, também acentuam a opressão da vida de Badru. A cinematografia, aliada à direção de arte, mergulha o espectador em Mumbai, fazendo da cidade um personagem que também possui suas contradições e desafios.
Em resumo, Darlings é uma obra que combina reflexão social com entretenimento de qualidade. Ao lidar com o abuso de maneira visceral e, ao mesmo tempo, delicado, o filme propõe um olhar contemporâneo sobre as relações de poder e as possíveis formas de resistência. Com um elenco muito bem alinhado e uma narrativa inteligente, é uma obra que desafia a ideia de que a dor precisa ser retratada de forma exclusivamente sombria e pesada, demonstrando que, por mais tortuoso que seja, o caminho da recuperação e da autonomia pode, sim, ter um toque de humor e humanidade.
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