Por Lorenna Mesquita
Ah, nós mulheres, o quanto ainda temos que lutar para conseguir respeito de uma sociedade patriarcal? Algumas lá do Oriente, cansadas de serem vistas como seres inferiores, lançam mão da Lei de talião e arrancam o pênis do seu algoz, que se achava no direito de usá-las. E para elas terem chegado a esse ponto, é porque a situação já está num nível insuportável.
Mas quando começou a ideia de que o homem seria superior à mulher? E como esse conceito foi levado a diante? Afinal, quem educou essas criaturinhas? Homens e mulheres, ora pois. Machistas. Ou no mínimo pessoas adestradas, que só repetem os mesmos conceitos, geração após geração. Seguidores de religiões que não pregam o amor, que incitam o ódio aos diferentes. (Se eu continuar a discorrer sobre isso, vou começar a falar de outro assunto…)
E pensar que ainda em 2014, há mulheres que são julgadas por um comportamento “fora do padrão”? 2014!!! Quando eu era criança, achava que por volta dessa época já teríamos os carros voadores, como os Jetsons, mas tudo bem, só temos a conversa via vídeo, internet no celular… Se voltássemos no tempo, como explicar para uma pessoa da década de 90 como é a nossa comunicação hoje e quais os avanços científicos e tecnológicos?
E por que falar de ciência e o que Florbela Espanca tem a ver com isso? “Isso” é para dizer que apesar de termos conquistado muito em todas as áreas do conhecimento, a cabeça de muita gente estagnou. Se hoje, nós mulheres temos que enfrentar tantos julgamentos, imagina o que Florbela Espanca passou na década de 20? Por receber a influência da moda e comportamento das mulheres francesas, foi chamada de vagabunda letrada.
Florbela é apenas um exemplo. Quantas mulheres receberam e ainda recebem olhares e palavras de reprovação? Algumas até apanham em casa! Será que naquela época era pior? O que de fato mudou?
“Disseram-me a mim tudo a que uma mulher perdida se não diz. Sinto-me suja de lama até o fundo de mim mesma.”
“Eu podia fazer da minha vida o que eu quiser, até mesmo um farrapo com que se varre as ruas.”
“É pensando nos homens que eu perdoo ao tigre as garras que dilaceram.”
Ainda assim, Florbela Espanca tinha orgulho de ser “diferente”:
“Sou bem diferente das outras mulheres, eu quero antes os meus defeitos do que as virtudes de todas as outras…”
“Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim; comigo hás de ter sempre que pensar e que fazer, hás de rir das minhas tolices, hás de ralhar quando elas passarem a disparates (hão de ser pequeninos, e hás de gostar mais de mim assim do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram”.
E bebia a vida a longos tragos…
O Nosso Mundo
Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos…
Os meus sonhos agora são mais vagos…
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno…
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!
A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!
Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…
O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!…
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