Por Octavio Caruso
O grande problema do Oscar é ter se tornado, aos olhos do mundo, o símbolo maior de tudo o que representa o cinema. Na realidade, a premiação não diz quase nada sobre a beleza da Sétima Arte. O brasileiro, aquele que não valoriza cinema como algo mais que entretenimento fútil, aproveita a farra que antecede o evento, participa de bolões, chega até a discutir sobre os filmes indicados. No dia da cerimônia, na falta de estofo cultural sobre o tema, ele perde mais tempo analisando os vestidos no tapete vermelho, as gafes cometidas, a plástica no rosto da atriz, os memes, enfim, tudo o que não é cinema. Quase sempre, sem nenhum interesse, dorme antes da metade da exibição. O tema já perdeu o valor que havia como status de elegância, é assunto de ontem, não irá nem comentar no trabalho. A Sétima Arte volta a ser, para esse brasileiro, simples futilidade que ele adquire nas bancas dos camelôs, para assistir quando não tiver nada melhor na televisão, entretenimento inofensivo para passar o tempo, enquanto aguarda a chuva estiar. Um longo ano irá se passar até que ele volte a se interessar por aquilo.
O brasileiro que trata o cinema exatamente como lida com a política. Em época de eleição, ele se torna politizado, discute o tema nas rodas sociais, esbraveja seus direitos, quase sempre se esquecendo dos deveres. Na falta de estofo cultural sobre o tema, embarca em qualquer teoria de conspiração compartilhada nas redes sociais, fazendo piada com a roupa dos políticos, com as deficiências físicas, enfim, tudo o que não é política. Assim que pressiona o botão da urna, aquilo já se tornou assunto de ontem. Ele volta então a programar seu cérebro para o senso comum: todo político não presta; motivo que o leva a não ler absolutamente nada sobre o tema durante o longo ano.
Claro que o ignorante político é tremendamente mais danoso à nação que o ignorante cinematográfico, porém, o segundo é sintomático de uma das causas que levam à criação do primeiro: o total desinteresse pela cultura, a satisfação com o raso e a priorização do “ter”, ao invés do “ser”. Cultura é fundamental no forjar de um cidadão consciente. Como querer um povo politizado, quando ele não lê, não se importa com cinema, só gosta de farra, não é pontual e só pensa em levar vantagem em tudo? Não adianta pensar em modificar governos, quando o cidadão não modifica suas atitudes diárias. O reflexo no espelho será sempre fiel ao monstro que se posiciona na frente dele. Ame a cultura, aprimore o “ser”, estude a memória da Sétima Arte, leia os grandes pensadores, acaricie sua mente com a mesma dedicação que o faz pagar altas somas nas academias de ginástica. O corpo se esvai rápido, o conhecimento se mantém e pode ser transmitido, eternizando-se em seus filhos, seus netos, seus amigos. Aprendi isso com o cinema.
Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização do autor.
Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br”, além de uma coluna social no site da jornalista Anna Ramalho, do JB. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.
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