Magnus Wennman, um aclamado fotojornalista de Estocolmo, na Suécia, publicou uma série de fotos atordoantes revelando o que está acontecendo com as crianças sírias refugiadas em vários cantos da Europa.
Para criar essas fotos, ele passou meses viajando pelo Leste Europeu, em regiões onde crianças e suas famílias estão fugindo por causa dos conflitos de guerra na Síria. Junto com as fotos, Magnus apresenta uma breve história sobre cada criança atemorizada pela violência brutal que vem devastando sua terra natal.
Nascido em 1979, Magnus Wennman tem trabalhado com fotojornalismo desde seus 17 anos de idade, quando começou sua carreira em um importante jornal sueco, chamado Demokraten.
O fotojornalista se concentra em histórias e notícias provindas de mais de 60 países. Ele já fez a cobertura de vários eventos relevantes, como as eleições presidenciais americanas de 2008, os protestos políticos dos “camisas vermelhas” na Tailândia, e a situação dos refugiados na África.
Ele já ganhou prestigiados prêmios de fotografia, tanto na Suécia quanto no exterior, tendo dezenas deles em seu currículo. Por quatro vezes, foi considerado “o fotojornalista do ano” em seu país.
A sua série de fotos mais famosa é justamente a intitulada Where The Children Sleep (‘Onde as Crianças Dormem’), que mostra os locais onde crianças sírias estão abrigadas após fugirem dos ataques de guerra.
Em entrevista para o jornal CNN, Wennman disse:
“Eu senti que este projeto foi mais pessoal para mim do que todos os outros, talvez por eu ter um filho de 5 anos de idade. Eu sei o quão importante para ele é se sentir seguro, todas as noites, quando eu o coloco para dormir.”
Wennman revela que as crianças são as vítimas mais inocentes desse conflito na Síria. Acima de tudo, elas enfrentam um mundo de incertezas.
“Ninguém sabe se ou quando o conflito vai acabar na Síria. Algumas dessas crianças vão poder recomeçar suas vidas em novos países, e terão um grande futuro. Outras serão presas em campos de refugiados nos países vizinhos. Muitas provavelmente não voltarão à Síria.”
Grande parte do que se vê em conflitos armados no Oriente Médio é caos e destruição. Multidões de pessoas cruzando mares em barcos superlotados, indivíduos correndo de guardas munidos de metralhadoras, e famílias inteiras clamando por salvação ao ser perseguidas por terroristas insanos. No meio dessa cacofonia toda, Magnus Wennman encontrou uma forma de registrar tais intempéries.
Além de revelar onde as crianças sírias refugiadas estão dormindo, as fotos de Wennman mostram, com clareza, seu sofrimento individual arrebatador.
Mais de 2,4 milhões de crianças sírias estão vivendo como refugiadas, de acordo com a Unicef. Isso representa mais da metade do número de refugiados da Síria. Muitos mais estão deixando países do Oriente Médio por conta da guerra.
A maioria dessas crianças sírias desoladas caminha dezenas de quilômetros por dia, sem parar, carregando pertences pesados nas costas, enquanto outras crianças praticam trabalhos braçais que estão além de sua capacidade física. Todas elas fazem isso para ganhar algum dinheiro que possa sustentar as necessidades de suas famílias em estado de emergência financeira.
Não existe uma só criança síria refugiada que não esteja passando frio, sede e fome, à margem de qualquer ajuda eficaz. É necessário lembrar, ainda, que várias dessas crianças são órfãs; elas perderam seus pais que não conseguiram suportar a vida condicionada pelo terror. E, como Wennman nos mostra, essas crianças perderam até o privilégio de dormir em paz.
Veja então algumas fotos que revelam onde crianças sírias desabrigadas estão dormindo, e saiba um pouco sobre a história por trás de seu refúgio:
Lamar, 5 anos – Horgos, Sérvia
De volta para casa, em Bagdá, as bonecas, o trem de brinquedo e as bolas são deixadas para trás; Lamar fala frequentemente sobre esses itens quando sua casa é mencionada. A bomba mudou tudo. A família estava em seu caminho para comprar comida, quando a menina foi abandonada perto de casa. “Não era mais possível viver lá”, diz a avó de Lamar, Sara. Depois de duas tentativas de atravessar o mar da Turquia, em um pequeno barco de borracha, eles finalmente conseguiram passar pela fronteira com a Hungria. Agora, Lamar dorme em um cobertor na floresta, com medo, frio e triste.
Abdullah, 5 anos – Belgrado, Sérvia
Abdullah tem uma doença sanguínea. Nos últimos dias, ele tem dormido do lado de fora da estação central de Belgrado. Ele presenciou a morte da irmã em sua própria casa, na região de Daraa. “Ele ainda está em estado de choque e tem pesadelos todas as noites”, diz a mãe de Abdullah. O garoto está cansado, não é saudável, e a mãe não tem dinheiro suficiente para comprar o remédio que ele precisa.
Ahmed, 6 anos – Horgos, Sérvia
Já passa da meia-noite, e Ahmed está adormecido na grama. Os adultos ainda estão sentados ao redor, formulando planos de como vão sair da Sérvia sem se registrar com as autoridades. Ahmed, com seus seis anos de idade, carregava sua mochila pesada nas costas ao andar com sua família por um longo trajeto. “Ele é valente e só chora às vezes, antes de dormir”, diz seu tio, que tem cuidado do garoto desde que o pai foi morto em sua cidade natal, localizada no norte da Síria.
Maram, 8 anos – Amã, Cisjordânia
Maram, de oito anos, havia acabado de chegar da escola quando o foguete atingiu sua casa em cheio. Um pedaço do telhado caiu bem em cima dela. Sua mãe levou-a para um hospital próximo, e de lá ela foi transportada através de uma fronteira com a Cisjordânia. A menina sobreviveu ao acidente, mas sofreu um traumatismo craniano causado por hemorragia cerebral. Durante os primeiros 11 dias, Maram esteve em estado de coma. Ela agora está consciente, mas tem uma mandíbula quebrada e não pode falar.
Ralia, 7 anos, e Rahaf, 13 anos – Beirute, Líbano
Ralia, de sete anos, e Rahaf, de 13, vivem nas ruas de Beirute. Eles são de Damasco, onde uma granada matou sua mãe e seu irmão. Juntos do pai, eles têm dormido na rua por mais de um ano. Eles se amontoam em caixas de papelão. Rahaf diz que está com medo de “meninos maus”, do que Ralia começa a chorar.
Moyad, 5 anos – Amã, Cisjordânia
Moyad e sua mãe precisavam comprar farinha para fazer uma torta de espinafre. De mãos dadas, eles estavam em seu caminho para o mercado de Dar’a. Eles passavam por um táxi no qual alguém colocara uma bomba. A mãe de Moyad morreu instantaneamente. O menino, que foi levado para a Cisjordânia, tem estilhaços alojados na cabeça, costas e pélvis.
Walaa, 5 anos – Alepo, Síria
Walaa, com cinco anos de idade, quer ir para casa, mas não pode. Ela tinha seu quarto particular em Alepo, cidade natal. Lá, ela nunca chorou na hora de dormir. Aqui, no campo de refugiados, a garota chora todas as noites. “Descansar a cabeça sobre o travesseiro é horrível”, diz ela. Foi quando os ataques aconteceram. Todo dia, a mãe de Walaa constrói um pequeno monte de travesseiros, a fim de ensinar a filha que ela não precisa temê-los.
Ahmad, 7 anos – Horgos, Sérvia
Mesmo o sono não é uma zona livre: é então que o terror avança. Ahmad estava em casa quando a bomba atingiu sua casa. Ele sobreviveu, mas seu irmão não teve a mesma sorte. A família conviveu com a guerra como vizinha durante anos, mas, sem um outro lar, eles não tiveram escolha. Foram forçados a fugir. Agora, Ahmad estabelece-se entre milhares de outros refugiados no asfalto ao longo da estrada que conduz à fronteira fechada com a Hungria. A família vem dormindo em abrigos de ônibus, na estrada, e também em clareiras na floresta.
Shiraz, 9 anos – Suruç, Turquia
Shiraz tinha três meses de idade quando foi acometida por uma grave febre. O médico diagnosticou poliomielite, e aconselhou os pais a não gastar muito dinheiro em medicamentos para “uma menina que não tem chance”. Então, veio a guerra. Sua mãe, Leila, começa a chorar quando descreve como ela embrulhou a menina em um cobertor e levou-a ao longo da fronteira de Kobane, para a Turquia. Shiraz, que não pode falar, ganhou um berço de madeira no campo de refugiados. Ela vive lá, dia e noite.
Amir, 20 meses – Zahlé, Líbano
Amir, com apenas 20 meses de idade, nasceu um refugiado. A mãe acredita que seu filho foi traumatizado no útero. “Amir nunca falou uma única palavra”, diz Shahana, a mãe, de 32 anos. Na tenda de plástico onde a família vive hoje, Amir não tem brinquedos, mas brinca com tudo o que pode encontrar no chão.
Juliana, 2 anos – Horgos, Sérvia
Faz 34º Celsius na região de Horgos. As moscas rastejam no rosto de Juliana, e ela, inquieta em seu sono, muda de posição. A família da garota andou pela Sérvia, sem parar, por dois dias inteiros. Esta é a última fase de uma fuga que começou há três meses. Fatima, a mãe de Juliana, coloca o xale fino sobre sua filha, no chão. A poucos metros de distância do seu local de descanso, há um fluxo interminável de pessoas. Assim que cai a noite, a família de Juliana aproxima-se dela e faz cafunés, para ajudá-la a dormir.
Fara, 2 anos – Azraq, Cisjordânia
Fara ama futebol. Seu pai tenta fazer bolas para ela, amassando qualquer coisa que consiga encontrar. Ele até produz algumas bolas, mas nenhuma dura por muito tempo. Ao final de todo dia, ele dá um beijo de boa noite em Fara e sua irmã mais velha, Tisam, na esperança de que, amanhã, possa trazer uma bola de verdade para elas brincarem. Todos os outros sonhos parecem estar fora de seu alcance, mas ele ainda não desistiu de dar o presente que suas filhas tanto desejam.