Fracassos vitoriosos

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Todo fracasso é doloroso. Fracassar põe em marcha o motor da baixa autoestima. Provoca a constatação: “Não fui capaz de alcançar meu objetivo. Errei em algum momento do processo, comprometendo o resultado esperado por mim. Ou pelos outros”.

A gente entende que fracassar é verbo forte e incômodo de conjugar – apesar de gramaticalmente ser um verbo regular. No melhor dos mundos, mereceríamos a vitória como recompensa aos nossos esforços e dedicação.

Mas na vida real os fracassos fazem parte do currículo profissional e pessoal, mesmo que a gente os esconda na gaveta, no esquecimento, ou debaixo de uma pedra pesada em um terreno distante e baldio. Afinal, a narrativa de insucessos não encoraja ninguém.

À medida que amadurecemos – delicioso eufemismo para substituir à medida que envelhecemos – os fracassos vão formando uma lista, ou pilha indisfarçável a reclamar alguma reflexão. E é nessa fase de vida, que eles vão se contextualizando, ou seja, se tornam relativos.

Ao pôr as coisas em perspectiva, os fracassos revisados perdem o peso de eventos absolutos. Muitas vezes, o que na época pareceu perda total, hoje vemos como investimento involuntário para ganhos melhores. Batemos com o nariz naquela porta, mas ao darmos marcha a ré encontramos outra entrada mais interessante.

Lembro que ao fracassar como romancista, leia-se autora de sinfonias literárias, acabei me encontrando com a crônica – o mais curto e descontraído dos gêneros. Longe das grandes expectativas, minhas e dos outros, pude florescer uma voz narrativa própria.

Ter me tornado uma cronista trouxe e traz alegrias para o meu cotidiano. Adoro escrever sem hierarquia de assuntos, sem engessamentos de formas. Amo ser livre em frente ao retângulo branco do computador, lugarzinho querido para eu deixar meu recado.

Recado como o da crônica de hoje, em que tento dizer que fracassos não são tão poderosos e determinantes quanto cremos, ou quanto nos tentam fazer crer. Eles podem ser pistas para inesperadas decolagens. Pois, frustrado um desejo, malograda uma vontade, algo importante e surpreendente pode surgir. Ninguém nasce condenado a um único voo.







Fernanda Pompeu é escritora especializada na produção de textos para a internet. Seu gênero preferencial é a crônica. Ela também ministra aulas, palestras e workshops de escrita criativa e aplicada. Está muito entusiasmada em participar do CONTI outra, artes e afins.