Por Patrícia Pinheiro
Esses dias, enquanto tomava banho – ainda não inventaram lugar tão acolhedor e estimulante de pensamentos geniais quanto o chuveiro – apesar de ter tido um dia meio esquisito e estar com a cabeça cheia de preocupações, me dei conta do quanto estava feliz por estar ali, sentindo a água quente escorrer pelo meu corpo e o cheirinho doce do sabonete entrar pelas minhas narinas. Eu não precisava de mais nada, sabe?
Concluí que a felicidade se encontra aí: nos pequenos prazeres fugazes.
Na cobertura glaceada de limão que combina perfeitamente com o bolo de baunilha e que alegra o meu paladar.
Na criança que olha fixamente para mim, sem medo do que eu vou pensar, e sorri demorado.
No cheiro do perfume do outro que fica na roupa, que fica na pele, que causa um friozinho gostoso na barriga ao testemunhar que alguém esteve ali.
Nas longas e renovadoras conversas que temos com alguém.
Na cama depois do dia longo.
No abraço depois da saudade.
São momentos intensos de leveza, de plenitude, de uma lucidez que, de tão rara, é quase assustadora. O medo não deixa de existir, os problemas ainda esperam pelas tuas soluções, mas, por uma fração de tempo – que pode caber dentro de um abraço ou de uma noite – o mundo passa a residir ali: na gotícula avassaladora de felicidade, que a gente sabe que é passageira, mas que nos faz gratos por estarmos vivos.
Quando penso que as injeções de felicidade têm efeito passageiro, lembro que, as de dor, também, e que, enquanto houver pequenices capazes de elucidar coisas boas e de me entorpecer – ainda que por segundos – de alegria, tenho motivos suficientes para preservar o otimismo, para , ainda que a dor esteja agindo, me jogar no mundo com toda sensibilidade que cabe em mim, pois sei que ainda existem muitas overdoses de felicidade me esperando. Sobrevivo e aguardo pelas próximas, pois, até hoje, todas valeram a pena.