“Nunca pinto sonhos nem pesadelos. Pinto minha própria realidade.”- Frida Kahlo

“Nunca pinto sonhos nem pesadelos. Pinto minha própria realidade.”

Assim se definiu a pintora mexicana, Magdalena Carmen Frida Kahlo (1907-1954).

A base essencial de nossa personalidade é a afetividade. Pensar e agir são, por assim dizer, meros sintomas da afetividade. Os elementos da vida psíquica, sentimentos, ideias e sensações apresentam-se à consciência sob a forma de certas unidades que, numa analogia a química, poderiam ser comparadas às moléculas.

O erotismo constitui um problema controvertido e sempre o será, independentemente de qualquer legislação futura a respeito. Por um lado, pertence à natureza primitiva e animal do homem e existirá enquanto o homem tiver um corpo animal. Por outro lado, está ligado às mais altas formas do espírito. Só floresce quando espírito e instinto estão em perfeita harmonia. Faltando-lhe um dos dois aspectos, já se produz um dano ou, pelo menos, um desequilíbrio, devido à unilateralidade, podendo resvalar facilmente para o doentio.

A vida de Frida, nascida na cidade do México, é permeada por graves acidentes que afetaram em muito seu corpo. Já pequena teve poliomelite e ficou mancando de uma perna, até quando aos dezoito anos em um acidente de bonde estraçalha a coluna e a pélvis ficando alguns anos em recuperação através de quarenta cirurgias e colete de correção deitada em uma cama.

Frida começa a desenhar deitada com um cavalete adaptado e cores diversas que passam para a pintura naive. Seus sonhos passam a fazer parte ativa em sua vida cotidiana, uma vez que se torna presa de seu corpo imobilizado.

A personalidade da jovem também sofreu mudanças uma vez que Frida criou uma persona forte e excêntrica para enfrentar o mundo. Quando consegue finalmente voltar a andar, Frida busca Diego Rivara, conhecido artista muralista de igrejas e casas por quem se apaixona loucamente e se casa fora das regras sociais, com roupas coloridas, que aliás seriam suas favoritas, as saias longas para disfarçar a deficiência e calças compridas.

Sua capacidade intelectual e ideias políticas somadas à sua beleza e criatividade lhe proporcionam um encanto raro. Ela é uma mulher de excessos tanto no amor, como na vida desregrada, intimamente ligada à arte, tanto na pintura, como no canto como na música e na dança, frequentando a boemia com Diego e sozinha.

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Original Caption: 1944: Photograph of Frida Kahlo (1910-1954), Mexican painter and wife of Diego Rivera.

Frida gosta de transgredir e o faz toda vez que é oportuno. Diego não se importa que ela transe com outras mulheres, aliás ele é completamente louco por mulheres, o que causa problemas para o casal. Vão para Nova York, onde Diego Rivera se torna famoso por seus murais até precisar interromper por razões ideológicas. Eles são ambos, comunistas, como a maioria dos artistas da época e num período de 25 anos, se separam e se unem até a morte de Frida aos 47 anos, já sem mais forças, tendo amputado perna e pé.

Frida tem um animus muito evoluído pela identificação com seu pai, a quem ama muito. O arquétipo do Animus é a representação masculina na mulher que, primeiramente, se identifica com o pai e passa a dirigir suas ações para o Logos, i.e., a razão, a lei e a capacidade de discernimento e de opinião. O animus constitui os meios de a mulher defender-se e criar seu padrão de comportamento através do conhecimento.

Contudo, sua base afetiva se funda em uma necessidade instintiva de proteção, que faz com que a mulher projete seu animus nos homens que conhece ao longo do caminho, nos diferentes papéis de herói, irmão, filho e figuras semelhantes às do pai. É, pois, mais razoável considerar a produção psíquica como um fator gerador do que gerado.

As polaridades estão presentes e atravessam todos os conceitos estabelecidos, cabendo a nós o trabalho de sentir e interpretá-las, seja nos opostos vida x morte, ódio x amor, mulher x homem, oprimido x opressor, luz x escuridão. Porque a loucura é um estranho fenômeno que pode ser entendido não apenas como existente no interior de alguém ou entre as pessoas, mas também como um processo arquetípico que abrange e influencia ambas as pessoas em um relacionamento através de seu domínio indefinível.

Logo, se o relacionamento é o lugar da transformação de indivíduos e da cultura, então, devemos não apenas expor a loucura de um relacionamento, mas também devemos descobrir o mistério desta loucura. Frida e Diego se completam.

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O relacionamento deve ser visto como o continente para se lidar com as forças arquetípicas e irracionais da loucura dentro de nossa cultura. Por esta razão, devemos pensá-lo como bem mais do que duas consciências ou inconsciências relacionadas através de pessoas que interagem. O relacionamento deve ser visto como repousando sobre um grande mar de vida emocional, uma dimensão que nunca é entendida apenas através de meios racionais. Este fato foi notado por Freud e também usado largamente por Jung.

As pinturas de Frida têm a estética muito próxima do Surrealismo. A Influência da arte folclórica indígena mexicana, cultura asteca, tradição artística europeia, marxismo e movimentos artísticos de vanguarda.

– Pintou muitos autorretratos, paisagens mortas e cenas imaginárias, faz uso de cores fortes e vivas e aborda temas de sua própria vida. “Espero alegre la salida y espero no volver jamás”. Morreu dormindo na mesma cama onde começou a pintar.







Fernanda Luiza Kruse Villas Bôas nasceu em Recife, Pernambuco, no Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingivel; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica, caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.