Frozen nos ensina: precisamos descongelar os icebergs das emoções

Ficha técnica:

Filme: Frozen  

Direção: Cris Buck e Jennifer Lee

Produção: Disney – EUA

Ano: 2013

Frozen foi e é um sucesso unânime entre crianças e adultos. E, apesar de já haver um tempo do seu lançamento, o enredo segue encantando a todos e sendo alvo de inúmeras reflexões. O que será que faz este filme ser tão irresistível?

Trata-se de uma espécie conto de fadas moderno, que carrega um significado psicológico essencial e nos convida a dois tipos de conhecimento: um intelectual, que nos ajuda a refletir sobre o enredo e dele tirar determinado proveito ao compreendê-lo intelectualmente; e um conhecimento vivencial, ou seja, que se realiza por meio dos nossos órgãos do sentido, que nos toca intuitivamente e nos provoca reações afetivas e emocionais. Um conto de fadas é sempre um convite a entrarmos em um outro mundo, cheios de encantos e magias, com desafios e obstáculos que chamam heróis e heroínas à mais profunda realização do seu potencial escondido ou não aprimorado, ou seja, à realização do próprio Self.

É neste mundo subjetivo e inconsciente que entramos quando assistimos a saga das irmãs Ana e Elsa, e neste ponto os produtores foram muito felizes ao escolherem abordar o relacionamento amoroso entre familiares, fugindo do antes tradicional par romântico.

A relação entre as irmãs e a importância dos laços de sangue são temas centrais não só do filme, como também do cotidiano. Aprender a amar e o amor em si são vivências muito primárias em nossas vidas e determinam futuras relações.

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Este texto foi produzido por Marcia Berman Neumman e Marcela Alice Bianco, membros da Comissão Organizadora do Cine Sedes Jung e Corpo com base nas reflexões realizadas durante o evento realizado em março de 2017, com os comentários da Professora e Psicoterapeuta Junguiana Maria Helena Mandacarú Guerra e da Psicóloga e Psicoterapeuta Junguiana Rosângela Victor Marconi.

O Cine Sedes Jung e Corpo é uma atividade extracurricular do curso Jung e Corpo: Especialização em Psicoterapia Analítica e Abordagem Corporal do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

É um evento gratuito e aberto ao público geral organizado pelos professores do curso em conjunto com ex-alunos e ocorre todas as últimas sextas-feiras dos meses letivos do curso.

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Na psique, o simbolismo das irmãs pode representar os pares de opostos, as polaridades consciente e inconsciente, subjetividade e objetividade, razão e emoção, sensação e intuição, entre tantas outras. Todas elas são complementares entre si, e podem ser assim experimentadas quando funcionam de maneira dinâmica, harmonizada e integrada dentro psique. Porém, quando por ventura há algum tipo de conflito que causa uma fixação de uma polaridade em detrimento de outra, a psique vive um período de estagnação, repressão, fixação, que se exterioriza no surgimento de inúmeros sintomas. A resolução desta fixação e a ultrapassagem da atitude unilateral, com o estabelecimento de uma relação entre as polaridades de maneira dialética e integrada, alcançada por meio da função afetiva, ou seja, do amor, pode ser a via para se chegar a um novo equilíbrio e a um novo patamar de amadurecimento psíquico, seja na vivência pessoal ou relacional e coletiva. Esta será a tônica apresentada em Frozen, uma aventura congelante.

No filme, as princesas Elsa e Ana viviam felizes num lindo reino. Elsa detinha poderes secretos e os usava de forma lúdica para se divertir com a irmã. Criavam brincadeiras juntas, e nelas Elsa fazia surgir, com sua magia, neve, tobogãs e bonecos de neve, explorando o mundo da fantasia e criatividade junto com Ana. Eram próximas e cúmplices, até que certo dia, num acidente, Elsa atinge com um raio a cabeça da irmã, ferindo-a.

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 Ao perceberem a situação, os pais se apavoram, repreendem Elsa e levam as duas para verem os trolls (os especialistas em amor), que no filme aparecem como seres elementares e totalmente ligados à natureza e, portanto, têm papel de curandeiros/sábios da floresta. Estes falam que por sorte o raio atingiu a cabeça e não o coração: “a cabeça é mais fácil de convencer; já o coração, não”, dizem eles.

A partir deste evento, os reis decidem que o melhor é esconder os poderes de Elsa. Tomam medidas para isolar a filha e protegerem a todos. Decidem fechar os portões do castelo, reduzir o número de funcionários e instruir a filha a não sentir e a esconder e não mostrar mais seus poderes. Para o bem comum, Ana não lembrará de nada, e como marca do incidente só restará uma mecha branca em seus cabelos. Os trolls ainda avisam: “o medo será o grande desafio a ser vencido por Elsa”.

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A porta carrega o simbolismo da passagem, do acesso, da discriminação entre que está deste e o que está do outro lado, entre o conhecido e o desconhecido, entre um mundo e outro mundo. Quando elas estão abertas ou são acessíveis, há um convite para o relacionamento entre o que está de de cada lado da porta, há um convite para a troca, para a intimidade, para a atividade criativa, para a participação. No entanto, quando elas se encontram impossibilitadas de serem abertas, ou inacessíveis, funcionam como limite, defesa, separação e o relacionamento direto fica inviabilizado. Assim, o evento traumático leva a uma grande repressão na vivência emocional familiar e as portas são fechadas, separando as irmãs e as formas de viver (introversão e extroversão, razão e sentimento, poder e ingenuidade, saber e não saber). Por trás das portas passam a existir grandes segredos, que levam toda a família à estagnação e à ausência da vivência criativa.

Elsa passa a sentir medo e se tranca em seu sofrimento; teme ferir ou revelar seu segredo à irmã. A experiência, vivida como traumática e negativa, torna-se motivo de afastamento entre as irmãs, antes companheiras e amigas. Ana não entende o que houve para tudo mudar repentinamente e, durante anos, insiste em chamar Elsa para brincar. Ambas se sentem solitárias e angustiadas, cada uma de um lado da porta, de um lado da realidade.

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Aqui cabe uma pausa para uma reflexão. Como ficamos quando somos impedidos de sentir? O que significa um coração congelado?

Os sentimentos e as emoções são funções estruturantes que contribuem para o desenvolvimento da personalidade. O medo, por exemplo, dispara um mecanismo instintivo de ataque-defesa ligado à sobrevivência e que permite que nos defendamos dos perigos que nos cercam. Diante dele, uns fogem, outros paralisam ou congelam.

Distanciar dos sentimentos e das emoções faz com que nos afastemos da força e do potencial humanos, inclusive de nossa capacidade de amar e ser amado. Um coração congelado, o não contato, evidencia traumas, defesas rígidas e dificuldades no desenvolvimento da afetividade e dos relacionamentos.

Por isso, como mencionamos acima, devemos nos atentar para a importância das relações parentais durante a primeira infância. O ambiente, a amorosidade, a qualidade do vínculo afetivo criado pela relação entre a criança e quem cuida dela são essenciais para a formação da personalidade.

É muito comum psicoterapeutas receberem em seus consultórios indivíduos com questões amorosas. Pessoas que estão marcadas com feridas de rejeição, abandono, negligência e perdas precoces e que, muitas vezes, fantasiam que a solução é se fechar para o amor como mecanismo de autoproteção. Indivíduos que pensam: “se eu não amar, controlo melhor, não sofro”. São corações congelados que temem o sofrimento, mas que só se aquecerão com o amor, com o enfrentamento, com a coragem de arriscar entrar em contato com a dor.

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A transformação verdadeira implica num sentimento modificado. Para elaborar um complexo, uma dor profunda, não basta só o intelecto. É preciso vivenciar, sentir no coração e ressignificar a vivência.

A experiência de Elsa ainda na infância foi de exclusão, “bronca” dos pais, o que gerou muita culpa e resultou numa defesa muito bem estruturada. Aprendeu que é perigosa, que pode fazer mal ao outro a quem ama e por isso deve se isolar: “não sentir, não deixar saber”. Ninguém a ensinou a lidar com a questão de outro modo, a usar seu dom de maneira construtiva e criativa, mas a se isolar, se fechar, se distanciar, fazendo com que ela acreditasse que era perigosa e destrutiva. E assim, a defesa se solidificou. Estar sozinha foi o modo aprendido. Porém, ser feliz sozinho, quando a solidão é fruto de uma defesa tão arraigada, é uma ilusão, que custou no enredo do filme o impedimento de convívio entre as irmãs e com o mundo. Trancar-se no castelo foi a solução ensinada. O par de luvas que lhe foi dado significando: “reprima ao invés de lidar com a questão”. Com estes ensinamentos os pais de Elsa, crendo fazer o melhor à família, estigmatizaram as duas irmãs. Elas tornaram-se jovens sem repertório, impedidas de sentir o amor, isoladas do convívio social e, por consequência, com baixa autoestima e autoconfiança. Ambas sentiam solidão.

A criança aprende a se reconhecer com o olhar do outro durante seu desenvolvimento. O olhar dos pais é fundamental e estruturante nesta primeira infância. Devemos levar em conta que pais fazem o que julgam melhor para seus filhos, dentro de um quadro de referências culturais e sociais. Antigamente, por exemplo, crianças especiais e pacientes psiquiátricos eram isolados, presos. Este era o movimento que traduzia a sociedade até então: isolar o que é diferente, como no filme. Este movimento reflete o pouco desenvolvimento da consciência coletiva da época.

Mas a primazia do poder dos pais sobre a vivência psíquica dos filhos, um dia perde força. Os pais de Ana saem para uma viagem e acabam naufragados no próprio mar revolto do inconsciente coletivo. Ou seja, a energia ligada a eles imerge a um nível inconsciente e impessoal. É chegado o momento de o reino ser liderado pela nossa heroína Elsa, cujo poderes cresceram de maneira sombria e desenfreada pela falta de oportunidade para elaboração. Por conta disso, ela e sua irmã, terão que enfrentar inúmeros desafios que ainda estão por vim.

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É impossível mantermos tudo dentro de um controle rígido, acreditando que ele será suficiente para não nos comprometermos ou não deixarmos vir à tona quem realmente somos. As luvas mostram como as defesas de Elsa são frágeis e o quanto ela está despreparada para a vivência interpessoal. É como se quiséssemos esconder toneladas de sujeira embaixo de um ínfimo tapete. Basta que ela tenha que tirar as luvas por poucos instantes e seja de alguma forma incitada a ter uma reação emocional, para que toda a força reprimida no inconsciente venha à tona, liberando uma energia descontrolada e cujas consequências são difíceis de medir.

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Amedrontada pelo mesmo medo que vê refletido nos olhares de seus súditos e convidados no castelo, Elsa foge. A reação aprendida é a de isolar e se afastar, portanto, neste momento não há outra saída. O isolamento parece garantia de que tudo ficará bem.

Tanto na realidade como na ficção, é muito comum vermos indivíduos defendidos iludirem-se e sentirem-se felizes isolados. Em Frozen, quando Elsa foge imaginamos que ela se libertou. É um momento encantador para quem assiste. Ela canta, experimenta seus poderes, solta o cabelo, suas vestimentas e maquiagem se transformam. A personagem cria uma nova moradia bem longe: um castelo de gelo. A perfeita “redoma de gelo”, onde parece estar feliz. Uma ilusão se pensarmos na voz da defesa, que tenta convencê-la que está feliz, livre. Porém, na realidade, é uma estagnação, o não crescimento, não estar conectada com sua alma, com sua essência, não perceber que tudo que mais importava ficou para trás, congelado como seu coração/sentimentos/emoções.

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Quando Elsa foge, Ana vai atrás e, ao contrário de todos, não teme a irmã. Quer protegê-la e vai de coração aberto. Em sua empreitada de resgate se dá conta da gravidade dos acontecimentos: um reino inteiro congelado. Ana acha que a culpa é sua, pois provocou a irmã querendo se casar com alguém que acabara de conhecer. Mais uma vez, podemos ver aqui o despreparo e falta de experiência causados pelo isolamento. A irmã mais nova despreparada para discriminar entre um amor verdadeiro e uma emboscada interesseira. Assim, Ana também precisa iniciar uma jornada pessoal, movida pelo desejo de ajudar a irmã, e se aventura sozinha frente ao desconhecido, para o seu próprio bem.

Na jornada para encontrar a irmã, Ana relaciona-se com Olaf, Sven e Cristofer. Olaf (boneco de neve) e Sven (alce) representariam a fantasia e os instintos, respectivamente. O reino interior sempre envia os seus auxiliares, os símbolos, que aqui se manifestam como elementos complementares que ajudam a enfrentar os desafios e que serão essenciais para o autoconhecimento. Cristofer (vendedor de gelo) em certo momento fala à Ana que não confia nela, pois: “como confiar em alguém que casa com um desconhecido! ”  

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As irmãs se reencontram no castelo de gelo e Elsa não quer voltar. Elsa cria um mostro de neve para protegê-la, mas afasta as pessoas que ela ama e afasta a irmã. Podemos pensar aqui na autonomia da Sombra. Muitas vezes ficamos presos em um complexo autônomo, mas o que significa isso em termos práticos? Significa que existe uma autonomia que se manifesta em ações que são contra nossa vontade, como neste trecho, onde tudo o que Elsa mais queria era voltar e estar perto de quem ama, mas faz o contrário, criando um mostro ainda mais amedrontador que ela própria para afastar a todos e proteger sua defesa.

No enredo, Elsa teme pela segurança de todos e acaba acidentalmente atingindo Ana, pela segunda vez, com um raio congelante. Porém, desta vez no coração. Cristofer a leva para seus amigos, os especialistas em amor. Os Trolls falam que, desta vez, somente um ato de amor verdadeiro poderá salvar e aquecer o coração de Ana. Logo imagina-se que um beijo de seu noivo, Hans, poderá salvá-la e levar a estória a um final feliz.

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Porém, aqui devemos fazer outra pausa e retomar a questão levantada no início do texto: Frozen é inovador porque os autores captaram uma mudança muito grande de paradigmas. No filme não é o homem ou o par romântico que salvam. O masculino dá lugar ao empoderamento do feminino que cura. O amor conjugal, idealizado com frequência nos contos de fadas e filmes, dá lugar ao amor fraterno, entre irmãs, no caso.

Podemos pensar num resgate do feminino, da mulher, e na modificação na relação masculino-feminino, homem-mulher, com este novo paradigma. Antes de Frozen, muitos contos de fadas e filmes, mostravam que só por meio do casamento a mulher seria salva e feliz para sempre. Podemos citar como exemplo: Bela e Fera, Bela Adormecida, Cinderela, entre tantos outros…

A animação captou muito bem esta mudança do feminino e da posição da mulher em nossa época. Ana não é salva pelo outro, pelo masculino, pelo homem. Ao contrário, ela salva Cristofer, bate em Hans quando descobre que seu amor por ela era uma farsa, um golpe. Em seu amadurecimento e aprendizado, ela descobre que não está à mercê do masculino, do homem: toma decisões de um feminino ativo, uma mulher forte: é determinada, suas escolhas são genuínas e conectadas com sua essência. Mesmo sem repertório inicial, é guiada por uma coragem, um impulso de vida interno que a faz desbravar o mundo e querer ter relacionamentos. Ela não suportava mais ficar trancada, isolada. Podemos pensar aqui na individuação como um projeto, uma perspectiva a ser alcançada, e não um ponto de chegada.

A história das irmãs nos mostra um trajeto de sofrimento como ocorre em nossas vidas reais, pois os percalços, angústias e dores fazem parte do desenvolvimento humano. Por isso nos identificamos tanto com ela.

No desfecho do filme, Ana salva a irmã da morte. Entra na frente para defender Elsa de Hans, que planeja matá-la para ocupar o lugar de Rei.

Neste momento, Ana congela e Elsa chora em cima de sua estátua de gelo. Este é o ato de amor verdadeiro ao qual os Trolls se referiam. Somente quando Ana prova o amor verdadeiro pela irmã, Elsa percebe o quanto a ama, sente a dor da perda e deixa sair seus sentimentos verdadeiros pela irmã, chora e liberta seu coração do gelo. Assim, o antidoto para uma ferida nem sempre pode ser encontrado longe daquele que inoculou o veneno, ou seja, a salvação de Ana e, por que não dizer de Elsa, ocorre juntamente no resgate da relação amorosa e genuína entre ambas. E neste momento ambas se salvam pela vivência do amor!

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Ana e todo o Reino descongelam quando aprendem que podem amar e ser amadas. Elsa não precisa mais temer suas emoções. O que sente agora é genuíno, verdadeiro e não mais defensivo. Quando estava dentro da defesa, as emoções reprimidas explodiam e ultrapassavam a si mesma, atingindo seu entorno (reino congelado, família, amigos).

Podemos pensar no medo na vida real também. O medo nos protege enquanto função, porém, quando ultrapassa seu limite funcional, dispara defesas (medo de amar, de se frustrar, de sofrer, de demonstrar, crises de pânico). Afinal, de que temos tanto medo? Poderíamos arriscar dizer que tememos o que (ainda) não podemos curar!  Tememos o que é sombrio em nós mesmos, ou seja, o que rejeitamos, não gostamos, desconhecemos e reprimimos. Porém, esquecemos que estas forças só são sombrias enquanto dissociadas. Uma vez elaboradas e integradas, geram criatividade!

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Aqui cabe uma última consideração: pensar no porquê do grande encantamento e identificação com Elsa. Nossa heroína detém um grande poder: congelar a água. O simbolismo da água está diretamente ligado às emoções. Existe uma analogia entre a água que transmuta os estados e os sentimentos e emoções neste caso. A água é um elemento da Natureza de muito poder, tanto construtivo (essencial para a vida), como destrutivo (enchentes, chuvas, nevascas). Podemos levantar também a questão da identificação das pessoas com a dificuldade de Elsa para demonstrar e comunicar os sentimentos, para se relacionar, o sentir-se diferente e excluída.

Por último vamos olhar para o desfecho, em que o amor reina absoluto e permite um novo padrão de consciência e de relação. Quando o poder supressor e congelante da Sombra desaparece, Ana e Elsa se salvam e com elas, todo o reino é salvo, ou seja, toda a consciência coletiva pode florescer.

Amor e poder são temas já muito estudados e merecem atenção. Quando tratados de maneira unilateral e opostas, o amor precisa sempre vencer o desejo de poder, em nós mesmos e no outro. Jung já dizia: “Quando o poder entra por uma porta, o amor sai pela outra”. No filme, temos um exemplo deste tipo de relação entre amor e poder no drama amoroso de Ana e Hans e o príncipe deseja o poder, o reino. Para isso, engana, mente e tenta matar Elsa e Ana. Falha e acaba unindo as irmãs.

O amor vence neste caso e o Reino agora é aberto e acolhe a todos. O poder passa então a ser exercido com muito amor, acolhendo a diversidade e apontando para uma nova dinâmica de funcionamento, a alteridade, Ou seja, o poder vivido como autoritarismo e unilateralidade não cabe em uma relação de amor. É preciso que se encontre uma nova atitude, que não sirva para aprisionar, abusar, fechar, reprimir e separar. Dentro de uma relação de alteridade, ou seja, quando todos os elementos têm o mesmo valor e são considerados dignos para existir, esse poder ganha uma nova força, a do empoderamento, que juntamente com o amor valoriza o ser, a relação e poder e amor passam então a agir de maneira construtiva e transformadora, seja na própria vida interior, seja nas relações interpessoais e na relação do homem com a Natureza.

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Este texto foi produzido por Marcia Berman Neumman e Marcela Alice Bianco, membros da Comissão Organizadora do Cine Sedes Jung e Corpo com base nas reflexões realizadas durante o evento realizado em março de 2017, com os comentários da Professora e Psicoterapeuta Junguiana Maria Helena Mandacarú Guerra e da Psicóloga e Psicoterapeuta Junguiana Rosângela Victor Marconi.

O Cine Sedes Jung e Corpo é uma atividade extracurricular do curso Jung e Corpo: Especialização em Psicoterapia Analítica e Abordagem Corporal do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

É um evento gratuito e aberto ao público geral organizado pelos professores do curso em conjunto com ex-alunos e ocorre todas as últimas sextas-feiras dos meses letivos do curso.

Material reproduzido na CONTI outra com autorização.







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