Gente exibida e seus gritos por atenção

Por Ronaud Pereira, via 

Gente exibida

A imensa maioria das pessoas tem um senso de valor próprio muito baixo, e de fato, sejamos honestos, não valem muito mesmo. Pois, deixando de lado a dignidade pessoal de cada um, na prática valemos o que somos capazes de fazer. Só que essa imensa maioria não faz nada de bom da vida. Por isso a autoestima geral reinante é rasteira.

Quase sempre vivem para si mesmas, numa vida narcísica. Querem e esperam que tudo lhes aconteça sem darem nada em troca. Essa imensa maioria não faz nada de bom talvez por um preguiçoso egocentrismo, ou talvez por incompetência, ou por desinteresse, em suma, por falta de iniciativa, desânimo, fraqueza, desconhecimento de que as coisas podem ser diferentes.

Viver só para si é a melhor forma de esvaziar nossa própria vida. Nosso vazio interior só pode ser preenchido por outras pessoas. Normalmente só somos reconhecidos pelo que fazemos aos outros. Quando doamos algo aos outros, sempre somos retribuídos. A troca sempre existe. Ou você recebe alguma remuneração, ou então recebe reconhecimento, gratidão e apreço. Você pode SER uma grande pessoa, mas o que você É só pode ser expressado através do que você faz… de bom.

Poucos se esforçam por construírem a si mesmos, mas todos querem ser valorizados, apreciados, prestigiados, desejados (segundo Lacan), sentirem-se importantes (segundo Carnegie), o que dá na mesma (segundo Ronaud ). E na ânsia por se sentirem valorizados porém sucumbidos à própria nulidade existencial, acabam por usar de artifícios para serem apreciados pelos outros. Gente exibida e sem um mínimo de talento tem um quê de ladrões, que tiram dos outros o que não fizeram por merecer, no caso, nossa atenção.

A moda é um desses artifícios. O paraíso da gente exibida 🙂 Moda é comunicação. O que você veste está comunicando o que você é. Se você está comunicando mais do que você é, está sendo incoerente. E você, bobinho, não percebe que todos percebem essa incoerência. Todos dirão: “Nossa, visual novo, bacana hein!” ou “Nossa, como você tá linda!”. Mas é por educação!

Vejo rapazes usando bermudão, bonés virados, numa atitude contestadora e independente, porém ainda morando com os pais. Vejo meninas seguindo a moda cegamente, só porque a atriz tá usando na novela, sem se darem conta do ridículo de 1 – usar peças extravagantes que são FEIAS; 2 – ir atrás do que os outros sugerem igual um cordeirinho indo para o abate – abate do seu dinheiro.

Vejo hipsters chamando atenção nas ruas de modos exagerado e só percebo despropósito. Onde querem chegar com esse exagero? Por que essa exposição gratuíta? Se expõe numa atitude de auto-afirmação do quanto se pode ser ridículo. É só distração. Uma solução externa e visual para um problema interno e existencial. Não vai resolver.

Acho que a única contestação possível é a independência. Ou você não depende de ninguém e se mostra como quiser, ou dar uma de excêntrico quem sabe ainda morando com os pais ou trabalhando naquele emprego medíocre que mal lhe permite dar conta da vida só vai lhe fazer passar por ridículo, dada a tamanha incoerência de uma postura dessas. A mensagem que se está passando é incondizente com sua condição real.

Embora já tenha criticado aqui a noção contemporânea de status, ainda penso que a exibição de nossa condição alcançada com base em nossos esforços ainda é a mais aceitável. Cresça na vida produzindo valor para a sociedade e exiba-se da maneira que seu dinheiro permitir. Agora ficar se exibindo de forma artificial, sem um fundamento – $ – ou um porquê, sem graça nem talento para a representação artística, ainda me soa um tanto estúpido.

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