Você percebe que está sendo explorado em sua generosidade quando se toca que as pessoas vêm até você, se lembram de você, ou te procuram, apenas e tão somente quando você tem algo que seja do interesse delas ou quando elas precisam que você faça algo que qualquer outra pessoa se negaria a fazer.
Outro sintoma claro de que a sua tolerância anda beirando o infinito e revela falta de amor próprio, é a evidência de que todo mundo anda se sentindo demasiadamente confortável para colocar seus “adoráveis indicadores” na ponta de seu nariz, ora para colocar defeitos em tudo o que você faz, ora para transferir às suas costas pesos e responsabilidades que definitivamente não são seus.
As relações interpessoais são realmente um assunto delicado e cheio de nuances pouco objetivas para determinar limites e permissões. É na convivência que a gente vai estabelecendo códigos de acesso ou de delimitação de territórios. É na construção de uma relação baseada no respeito, na confiança e no afeto, que a gente pode relaxar diante do outro e o outro diante da gente, a ponto de não haver necessidade de tensões ou receios acerca de situações de abuso, seja por falta de compromisso, excesso de dependência ou o nascimento espontâneo de um “folgado de carteirinha”.
E, para falar a verdade, gente folgada anda brotando feito aqueles “Gremlins do Mal” saídos de um filme de Spielberg. Gente que acha que é melhor que os outros, gente que tem absoluta certeza de estar sempre certo, gente que cospe “verdades” na sua cara com tamanha desenvoltura, que você fica até meio desconfiado de que realmente a sua opinião, vontade ou necessidade não merece nenhum crédito ou oportunidade.
Infelizmente, parece que bom senso anda fazendo parte das coisas raras desse mundo. Infelizmente, a generosidade anda escassa e o individualismo parece ser a palavra de ordem do momento. Infelizmente, ninguém traz um aviso tatuado em neon na testa para nos prevenir de que por trás daquela aparência de suposta sabedoria, encontra-se um ser desprovido de sensatez, capacidade de enxergar ou ter empatia por outra pessoa.
Que a gente aprenda a compreender que quando nos anulamos em favor do outro, ninguém sai ganhando. Que a gente aproveite o tempo vivido para adquirir a sabedoria necessária, a fim de diferenciar convivências equilibradas baseadas em troca afetiva, das relações unilaterais que só nos esvaziam e enchem o outro de uma supremacia que serve de justificativa a recorrentes atitudes abusivas.
A linha que separa as relações de parceria, das relações de dependência ou prepotência são claras. No entanto, podem virar traços tênues, caso uma das partes esteja fragilizada física ou emocionalmente. É preciso exercitar habilidades de coexistência, por meio das quais se construa aprendizagens afetivas que nos permitam saber que às vezes cabe um “sim”, às vezes cabe um “talvez” e, às vezes é absolutamente necessário e saudável dizer “não”, livre de culpa ou remorso.
Aprender a dizer “não” é indispensável para a saúde emocional de qualquer relacionamento. Aprender a dizer “não” nos habilita a apenas dizer “sim”, quando nos for possível dizê-lo, quando esse “sim” não for fruto de nossa fraqueza, de nossa carência, nossa evidente incapacidade de estabelecer limites ou da manipulação de pessoas que fazem pouco da nossa boa vontade. Dizer “não” quando for preciso dizê-lo, é honesto, necessário e altamente libertador para ambas as partes.
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