Gente perfeita me afasta. É a sua imperfeição que me atrai em você.

Tem uma coisa que você precisa saber sobre mim. O que mais me atrai em você é a sua imperfeição. Reconheço as suas qualidades, admiro seus atributos e adjetivos. Mas acho perfeito sermos tão parecidos em nossa imperfeição.

Acho bonito o nosso empenho em levantar depois do tombo, nossa teimosia, nossos ímpetos impensados, nossas dificuldades recorrentes e equívocos eternos. Saber que seguimos na luta apesar dos nossos erros, feito bichos humildes desgarrados do bando, à procura do caminho de casa, provoca em mim um imenso gosto.

Eu gosto, sim. Gosto dessa multidão de defeitos que a gente tem. Dessas imperfeições que nos aproximam, irmanam, congeminam e escancaram as nossas fragilidades. De quando nos olhamos de perto e nos ajudamos a melhorar um ao outro eu também gosto. Quando não escondemos nossos erros, nossos medos e nossas faltas. Quando assumimos que somos nada senão uma gente falha e incompleta tentando acertar.

E eu gosto, gosto sobretudo, da nossa honestidade de não usar a imperfeição como desculpa para sair errando conosco e com os outros. Errar é humano mas não é desculpa, não justifica tanta desumanidade se alastrando por aí.

Penso em você despida de maquiagens e máscaras, andando de meias por minha casa, falando no ritmo de uma montanha russa, com a grandeza de uma roda gigante e o requinte de um carrossel, e acho que o mundo tem jeito, que todo mal há de fugir correndo se batermos o pé no chão, que pode levar tempo mas um dia toda gente será feliz em seu canto, habituada a sair de casa transbordando alegria, encharcando as ruas de festa e apreço pelo outro tanto quanto por si mesma, preparando aqui embaixo sua entrada merecida no paraíso onde todos viveremos para sempre.

Assim, juntos, eternos, perplexos e imperfeitos, aprenderemos os caprichos do vento e a arquitetura sublime das nuvens, a vida silenciosa das árvores e o coração das pedras. Perfeitos um para o outro. Juntos no infinito de nossa imperfeição.

É que somos todos pessoas imperfeitas. Ainda bem. E eu acho isso de uma perfeição encantadora. Coisa de Deus. Eu gosto assim.

Imagem de capa: klublu/shutterstock

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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