Por María Beatriz Valdivia
O bairro da Boca, localizado em Buenos Aires, Argentina, é para todo o mundo um exemplo de revitalização.
Formado por imigrantes italianos, em maioria, o bairro tem como característica principal as casas construídas com lata.
Diz a lenda que, na verdade, a lata utilizada nos cortiços veio de pedaços de navios em que chegaram os imigrantes no passado.
A sua rua mais famosa é a Caminito, repleta de casas pintadas com cores fortes, e que já foi homenageada até com o nome de um famoso tango.
No Caminito, a arte é efervescente. Há muito artesanato e telas de artistas locais à preços acessíveis.
Lá também há dançarinos de tango pelas ruas e performers que fazem estátua viva para divertir o público. Há músicos e uma espécie de display de madeira conhecidíssimo dos turistas, que podem simular que estão dançando tango na hora de fotografar.
É um ponto turístico obrigatório.
O homem que deu vida ao “Caminito”: BENITO QUINQUELA MARTÍN
Benito Quintela Martín foi abandonado logo depois de nascer e ficou em um orfanato até os seis anos, quando Manuel Chinchella e Justina Molina o adotaram. Naquela época “La Boca” era um bairro muito movimentado. Centro portuário por excelência, a intensa atividade mercantil era acompanhada pela efervescência dos cortiços onde moravam os imigrantes recém-chegados à Argentina. O pai adotivo de Benito era ele próprio um imigrante italiano. Benito frequentou a escola só por dois anos, pois teve que começar a trabalhar na carvoaria paterna. Ele foi operário portuário de “La Boca” até os quinze anos; enquanto isso participava intensamente da atividade política do bairro.
Em 1907 ingressou em uma academia de desenho e pintura e conheceu o diretor da “Academia de Bellas Artes”, quem o ajudou com a técnica dos retratos e a incorporação da cor nas suas obras.
Em 1918 exibiu seus quadros na Primeira Exposição Individual da Galeria Witcomb com grande sucesso de crítica. Em 1921 realizou a sua primeira exposição internacional no Rio de Janeiro. Dois anos mais tarde viajou a Madrid, em 1925 apresentou-se em Paris, em 1927 em Nova Iorque e em 1929 na Itália. Sempre se manteve fiel ao seu estilo e às suas temáticas: os portos, os barcos, o carvão, o trabalho e a vida do seu bairro natal.
Na década de ’30 iniciou uma série de atividades destinadas a embelezar “La Boca”. Fez doação de um prédio para que ali fosse construída uma escola pública. A escola deveria funcionar no primeiro andar, no segundo andar seria montado um museu de artistas argentinos e ele próprio moraria no terceiro e montaria ali mesmo seu ateliê. A escola foi inaugurada em 1936.
Mais tarde ele doou outros espaços para que neles fossem construídos o atual “Teatro de la Ribera” , um jardim de infância e o Hospital de Odontologia Infantil, tudo foi decorado com seus murais.
Sua última obra ao ar livre foi aquela que mudou mais radicalmente o rosto de “La Boca”. Na década de ’50 o bairro estava em decadência, a atividade portuária tinha diminuído bastante e os antigos cortiços estavam desabando. Movido pela saudade, pelo seu amor à arte e ao seu lugar de origem, Benito decidiu organizar uma exposição ao ar livre para artistas. Montou uma rua com cortiços, toda colorida em um trecho de trilho abandonado. Chamou-a de “Caminito”, em alusão ao famoso tango.
Quinquela Martin faleceu em 1977 e até o final continuou a trabalhar em seu ateliê. Sempre voltava a “La Boca” depois de suas viagens. Foi um grande artista, pintor dos portos e dos trabalhadores portuários. Sente-se ainda a sua presença no bairro de “La Boca” em Buenos Aires e a sua imagem continua viva na memória e nos corações dos argentinos.
O tango “Caminito”, interpretado por Carlos Gardel
Outras informações:
– Por estar na periferia de Buenos Aires, o bairro não é aconselhável à noite.
– Sede da Bombonera, o estádio do Boca Juniors, o bairro se transformou em palco da maior rivalidade no futebol argentino, contra o arquiinimigo River Plate. Ver a Bombonera de perto é quase impossível. Só abre em dia de jogo.
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