Eu sempre gostei. Ora mais, ora menos, sempre gostei de mim mesmo. Acontece que de quando em vez esse negócio de levantar e cair, de subir e descer, essa vida de tantos tombos nos faz perder a mão, o foco, a hora. E esquecer o que de fato importa. Aí o amor por nós mesmos arruma suas coisinhas e se ajeita para ir embora.
O meu já estava na porta, partindo para nunca mais voltar. Confesso. Eu andei brigado comigo mesmo, aborrecido com minhas coisas. Mas aí você veio, pessoa linda, sorrindo a beleza do mundo, feito uma promessa de felicidade, e o amor resolveu ficar. Ele não é bobo.
Ter você aqui dentro, habitando o espaço impreciso das minhas lembranças, sentada de frente para o lago manso das saudades que vivem em mim, olhando a lua alaranjada da minha infância, brincando com os cachorros, sorrindo tão linda, me faz sentir tanto amor que até dói.
Você sabe. O amor põe a gente pra frente. Sentir amor por você me faz acordar cedinho e arrumar a cama, ajeitar as coisas com empenho, com apreço, sair e espalhar ternuras por aí. Gostar de você me fez gostar mais de mim mesmo. Vou amando você e me tornando um sujeito melhor do que eu era. Amo você e me sinto certo de que meu lugar favorito no mundo é ao seu lado.
Essa vontade imensa de abraçar você uma tarde inteira, de beijar a sua boca até não sentir mais o chão, isso só pode ser coisa de Deus, que amou cada um de seus filhos antes de mandá-los cá pra baixo. E agora torce lá de cima para que todos sejamos amados, amáveis e felizes entre nós. Seremos assim, você e eu, esforçados no trabalho de sermos felizes para sempre.
E quando estivermos cansados desse longo e honesto ofício da vida, lá pela casa dos cem anos repousaremos juntos, infinitos, na memória dos nossos que por aqui ficarem, nas árvores que plantamos, nas pessoas com quem andamos, nos lugares onde passamos e nas músicas que amamos, exercendo em estado de festa nosso mais generoso, profundo e simples exercício de eternidade.
Imagem de capa: Kseniya Ivanova/shutterstock