Quem nunca teve a sensação de que era hora de revelar um segredo? Num dia, inconfessável. No outro, assunto público. A gente faz isso o tempo todo e nem se dá conta. Faz por vontade, por necessidade, por sobrevivência.
Mas a gente só tem direito de fazer com o que é nosso. Com o que é do outro, não. O segredo alheio contado é fofoca. É malícia, premeditação, sacanagem.
Quando alguém confessa ou conta algo íntimo que não quer tornar público, já aí está enfrentando uma dificuldade. A primeira, confiar. A seguinte, contar. E daí por diante, torcer para que seja guardado como prometido.
Tão importante quanto jurar, prometer ou fazer gestos com os dedos, é entender a importância de ter consigo uma informação que pertence a outra pessoa. É cuidar de um bebê. É responsabilidade, carinho, proteção.
Não importa qual é o segredo. Desde que não prejudique ou ofenda ninguém, é para ser guardado, até que venha a decisão de não ser mais segredo, tomada por quem lhe contou.
Tenho experiências incríveis, de segredos contados e esquecidos. Anos depois, quem os guardou os trouxe de volta para mim. Esses, não sobreviveram à minha própria história, morreram com o tempo. Mas que alegria saber que alguém os guardou com respeito. E, com respeito e gratidão, foi liberado de guardar como segredo.
É vital poder partilhar segredos. Guardá-los somente para si pode ser um peso muito grande. Se forem sofridos, tornam-se ainda mais, alimentados pela mesma consciência que os guarda e julga.
Aprendi isso em uma ocasião muito difícil da vida. Certa vez, fiz uma escolha muito perigosa, e, apesar de não ser segredo para ninguém, por muito tempo me debati entre o que deveria e o que queria fazer. Até que, como resposta da vida, me veio uma agressão física.
Em primeiro momento, decidi manter segredo. Segredo comigo. Ainda que confiasse em muita gente, temia ouvir a famosa frase: – Eu te avisei.
Esse segredo se tornou tão sufocante que, sem coragem de contar a uma só pessoa, um belo dia o contei a todos, tornando pública uma vergonha que já não cabia mais em mim.
Por isso, insisto: Guarde seus segredos se quiser, mas guarde muito bem os dos outros. Você nunca será capaz de avaliar o quanto isso poderá ajudar alguém.
Imagem de capa: Ollyy/shutterstock
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