Título original: Arrebatamento
Há pessoas que preferem um bom papo a um bom prato. Outras preferem uma suave sinfonia a uma bela gastronomia.
E há pessoas que gostam dos dois…
Existem pessoas que se encantam com as palavras em prosa ou em versos e existem outras que ao ouvi-las, bocejam.
Há pessoas que amam boas músicas orquestrais e há as que apreciam a melodia casada com a poesia. E há, ainda, as que ficam enlouquecidas e querem as duas…
Existem pessoas que recorrem ao pó, ao tabaco ou ao álcool para ir além dos limites, e há outras que se elevam com as belas artes: cinema, escultura, pintura, literatura…
Qual o melhor antídoto para a nossa finitude e concretude? Emil Cioran, filósofo romeno, não tinha dúvidas: postulou que somente a música é capaz de levar-nos ao êxtase, pois ela nos faz perder a pesada materialidade e nos dissolve em harmonias.
Aconselhou a música de Mozart e Bach como remédio contra o desespero, uma vez que sua pureza aérea nos faz “le- ves, diáfanos e angélicos”.
A poesia, a música e todas as coisas “belas” que o homem cria nos fazem angélicos.
As artes mais do que as ciências são capazes de afinar com precisão as sensações, tocar com tranquilidade a alma humana – lugar onde reside o coração – embalar sonhos e modular gestos.
Somente cordas, teclas, partituras, palavras, pincéis e outros instrumentos diáfanos são capazes de esculpir o verda- deiro homem e levá-lo mais além de si mesmo.
Somente eles são capazes de fazer-nos pairar, voar, sonhar e nos arrebatar.
Imagem de capa: Mykola Komarovskyy/shutterstock