Por Zoe Kessler
Depois que eu disse à minha irmã mais nova, Melissa, sobre o meu diagnóstico de TDAH, nós ficamos nos lembrando de nossa infância. “Se houvesse brigas na família, nós pensávamos que fosse coisa pequena, mas, para você, era coisa grave”, disse Melissa. “Algo que eu achava ser uma pequena discussão, você sentia como se fosse um terremoto monumental”. Foi somente aos 48 anos que eu descobri o que me tornava a rainha do drama: eu nasci com TDAH e hipersensibilidade.
Ser uma pessoa altamente sensível (PAS) não é ter um transtorno ou doença. De fato, isso traz muitos benefícios, tais como ser capaz de “ler” o humor de um ambiente rapidamente e computar dicas sutis quando tomar uma decisão. “É bom em algumas situações e não é em outras”, diz a psicóloga e psicoterapeuta Elaine N. Aron, Ph.D., autora de “The Highly Sensitive Person” (A Pessoa Altamente Sensível). Ela acha que saber que você tem hipersensibilidade é importante. Assim como para o TDAH, estar a par disso faz com que você saiba que não está sozinho.
• Alto nível de sensibilidade aos estímulos físicos (sons, visão, tato ou olfato) e emocionais.
• Maior tendência a sofrer de asma, eczema e alergias.
• Facilmente oprimido por muita informação.
Primeiro aprendi sobre a natureza genética da hipersensibilidade, lendo “Scattered” (Disperso), de Gabor Maté, M.D., um médico e psicoterapeuta. “As pessoas com TDAH são hipersensíveis”, diz Maté. “Isso não é um defeito; é como elas nasceram. É o seu temperamento inato”. Quando eu li “The Highly Sensitive Person”, da psicóloga e psicoterapeuta Elaine N. Aron, Ph.D., finalmente reconheci esta sensibilidade em mim mesma. De acordo com Aron, 15 a 20% da população nascem com um alto nível de sensibilidade.
“Quando você sabe que você é altamente sensível, isto reconstrói a sua vida”, diz Aron. Saber que você tem isso lhe permitirá tomar decisões melhores. “Pessoas sensíveis têm de viver de modo diferente para ficarem bem”. Os médicos que lidam com pessoas com TDAH veem a hipersensibilidade, tanto a física quanto a emocional, como uma condição comórbida.
“As pessoas com TDAH geralmente são hipersensíveis em um dos domínios sensoriais: audição, tato ou olfato”, diz Ned Hallowell, M.D., autor de “Driven to Distraction” (Guiados pela Distração). “Minha filha com TDAH somente veste roupas de algodão, ela não tolera a lã”.
Descobri que meu velho costume de ficar mexendo no meu cabelo era devido à hipersensibilidade. Não gosto da sensação dos fios de cabelo cutucando minha face e meu pescoço, então eu os amarro puxados para cima. Depois de um tempo, parece que alguém está passando os nós dos dedos na minha cabeça, justamente no lugar onde amarrei meus cabelos. Então eu os solto. E assim por diante, todo o dia. Outras sensibilidades incluem sons e estímulos visuais – flashes de luz e objetos em movimento. Os estudos sugerem que os que têm TDAH também sofrem mais de asma, eczema e alergias – condições de hipersensibilidade – do que os que não têm TDAH.
Antes de descobrir minha hipersensibilidade, percebia minhas emoções exageradas como uma falha de caráter. Minha mãe dizia, “Por que você não fica em paz?” Como criança, eu não tinha uma resposta. Isso piorava minha já baixa autoestima.
“Reconhecer sua alta sensibilidade pode ajudar as pessoas a parar de se sentirem mal sobre si mesmas”, diz Aron.
Uma amiga, Denise, diagnosticada com TDAH aos oito anos, teve uma infância semelhante à minha. “Meus pais diziam: Você precisa se controlar. Não seja tão sensível. Não seja tão influenciada pelo que os outros pensam a seu respeito”, diz Denise. “Ainda acho, como adulta, que estou brigando com os colegas, levo suas palavras e gestos imediatamente ao coração. Aceito muito rapidamente tudo de ruim que eles falam a meu respeito”.
Como eu, Denise é sensível ao ruído ambiente. “Preciso ficar numa floresta ou num lugar silencioso, de vez em quando, para me acalmar. Também fico oprimida pelo fluxo constante de informação que nos bombardeia atualmente”.
A psicóloga e coach Michele Novotni, Ph.D., diz que vê níveis mais altos de sensibilidades físicas e de reatividade emocional nos seus clientes com TDAH do que na população em geral. Ela me contou sobre uma cliente cujo gerente fez um comentário deselegante e injusto no trabalho. Uma pessoa sem TDAH poderia ter deixado as palavras passarem em branco, mas sua cliente, que tinha um alto nível de sensibilidade, rompeu em lágrimas.
Novotni sugere que foram os sentimentos de opressão da sua cliente com TDAH que provocaram a sua reação hipersensível. Isto, por sua vez, contribui para sua dificuldade em manejar a emoção. Veja a rotina de ir para o trabalho pela manhã. Muitas pessoas saem sem se esquecer de nada, prontas com um plano de ação para o dia. Alguém com TDAH, que não escolhe as tarefas e as prioridades, se sente cansado e oprimido na hora de sair para o trabalho.
“Alguns dos meus clientes me dizem que socializar é trabalho”, diz Novotni. “Então, se você pensa como sendo trabalho as coisas que muitas pessoas fazem para recreação, você provavelmente não terá a resiliência para lidar com as outras coisas que cairão sobre você”.
“Como temos dificuldade de filtrar o que sai,” diz Hallowell, que tem, ele mesmo, TDAH, “nós temos dificuldade de filtrar o que chega. Não posso provar isto com pesquisa, mas em minha experiência clínica, e em minha própria vida, parece que tendemos a deixar as coisas nos atingir. Aceitamos as experiências dos outros muito rapidamente, como o inseto na folha, que assume a cor da folha”.
Maté explica que, se os TDAHs nascem com um alto nível de sensibilidade, precisam de menos estimulação para que sintam mais. Deveríamos desligar conversas e meios ambientes estimulantes, diz Maté. Quanto mais sensíveis somos, mais provável que sintamos dor. “Dor emocional e dor física são sentidas nos mesmos locais do cérebro”, ele diz.
Muitos de nós descobrimos coisas positivas sobre viver com TDAH, e um alto nível de sensibilidade pode também ser usado a nosso favor. Mas como no TDAH, a hipersensibilidade deve ser manejada e controlada para deixar brilhar seus aspectos positivos – criatividade, empatia e profundidade de percepção. Eu consegui fazer assim, e você também pode.
• Respeite sua sensibilidade. Não se obrigue a fazer coisas que sejam difíceis. Tanto quanto possível, escolha situações que sejam adequadas para o seu temperamento. Pessoas altamente sensíveis precisam de mais tempo do que outras para processar os acontecimentos do dia, então, não se sobrecarregue saindo à noite.
• Recue. Permita reagir emocionalmente a uma situação, mas aceite que haja outras possibilidades. Tenha calma, analise a situação e a reavalie; pausa para reflexão.
• Bloqueie. Para evitar sobrecarga sensorial e ansiedade, sempre tenha plugues de ouvido e fones de ouvido com você, para bloquear o ruído.
• Abaixe o tom. Se multidões e barulho são um problema, encontre locais que sejam mais silenciosos e menos apinhados – uma pequena padaria em vez de um shopping, por exemplo, ou um consultório médico pequeno, em uma casa, em vez de um grande conjunto médico em um hospital.
• Reduza a estimulação externa dizendo não a coisas que você não precisa fazer ou que você não gosta de fazer.
• Certifique-se de que tenha tido o sono suficiente, ou tire uma soneca, antes de enfrentar uma situação que será altamente estimulante.
• Medite, reze, ou use outro método de relaxamento para reforçar sua capacidade de lidar com os desafios do dia a dia.
Fonte indicada: TDAH-Dourados
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