Desde que o site CONTI outra começou a ter mais visibilidade pública é raro o dia em que não recebo um e-mail de alguém que se deparou com a minha descrição de perfil e, ora quer elogiar e relatar admiração, ora quer saber como foi a história e pedir sugestões sobre como também mudar de carreira.
Sou do interior de São Paulo. Nascida em Bragança Paulista e criada em Socorro, cidade da região de Campinas e que fica aproximadamente a 120 km de São Paulo. Estudei em escola pública local e fiz faculdade também no interior.
Transcrevo o perfil:
Josie Conti
Psicóloga por formação, blogueira por opção.
Abandonou o serviço público para manter seus valores pessoais .
Hoje trabalha prioritariamente na internet com criação e seleção de conteúdo.
É idealizadora e redatora-chefe deste site e da CONTI outra no Facebook.
Trabalha com o que ama.
Antes de ingressar no serviço público, morei e trabalhei em cidades como Campinas, onde fui voluntária e depois funcionária de uma ONG destinada à prevenção e tratamento de pacientes HIV e tive consultório particular. Morei no interior do estado do Paraná trabalhando na área da psicologia da educação e depois em Curitiba trabalhando em um site de Recursos Humanos. Nesse percurso fui colecionando cursos e experiências:
Penso que algumas das mais importantes:
– não ter medo de usufruir da liberdade de ir e vir por cidades e cursos assim como de abraçar abordagens de trabalho diversificadas. Eu era voluntária em uma ONG, assistia aulas na Unicamp, fazia Sociedade Lacaniana de Psicanálise, mas minha maior conclusão foi que: profissional recém-formado não escolhe emprego, é escolhido por ele! E penso que isso é bom, pois só a prática realmente dirá onde e por quanto tempo nosso coração quer estabelecer morada em uma função;
– enquanto o ambiente acadêmico pode ser frustrante no que se refere à humanização da profissão (excesso de aulas teóricas desconectas com professores que, muitas vezes, parecem nunca ter visto um paciente e alguns alunos que podem ser um “saco” exibindo seus conhecimentos filosóficos, idiomas e títulos de mestrado e doutorado e que não fazem muito mais além de enfeitar a própria vaidade ), conhecer culturas diferentes e colocar a “mão na massa” promove a desmistificação das teorias, diminui a arrogância do pseudo saber e desenvolve a real empatia e envolvimento com causas e pessoas. Afinal, aprendizagem só tem valor se mudar comportamento.
– estreitar verdadeiros laços de amizade e confiança. Quando vivemos fora, em cidades, estados ou mesmo em países diferentes, aprendemos o que é solidariedade e amizade verdadeira. Muitas vezes, quando estamos na segurança de nossos lares, tudo o que recebemos de nossos familiares pode ser incorporado sem tanta percepção de valor, mas quando estamos fora e, muitas vezes quem nos ajuda é um estranho que não tem nenhum laço afetivo conosco, percebemos o que realmente é o sentimento de GRATIDÃO e como ele é vital em todas as esferas de nossa vida.
Entretanto, havia em mim uma ilusão de que o serviço público poderia promover uma estabilidade financeira que daria um conforto que seria importante no futuro.
Após vários meses estudando, consegui um a boa classificação como psicóloga em uma cidade do interior que fica a 40 km de Socorro. Assumi o cargo e fui direcionada para a área de saúde do trabalhador, setor onde trabalhei com uma das equipes mais sérias, humanizadas e profissionais com que já tive contato na vida. Como todo trabalho, houve momentos de conflitos e transições, mas estes foram resolvidos com justiça e as adaptações foram coerentes e visaram o bem da comunidade. Era uma vida desgastante, pois o salário era baixo, os gastos muitos por tratar-se de outra cidade (o que me obrigou a ter um segundo emprego por 2 anos), mas era tudo tão bem estruturado e os vínculos tão fortes que a vida ia seguindo. Até que um dia, após a troca de gestão política, tudo mudou:
– o setor começou a ser fiscalizado por profissional externo, o que afetou drasticamente a coesão da equipe;
– o setor foi transferido de prédio autônomo para o porão de um hospital da cidade;
– profissionais começaram a ser transferidos sem aviso prévio, principalmente após fiscalizações em empresas de grande porte da cidade.
– Eu, após quase seis anos em um serviço especializado, fui transferida para o CAPs (serviço com o qual eu não tinha nenhuma afinidade profissional). Meus pacientes deveriam ser avisados e outro profissional sem nenhuma formação específica assumiria. Todas as capacitações técnicas (o curso de psicologia não qualifica para as atribuições do cargo que eu tinha) além de um curso de extensão universitário da USP específico em Saúde do trabalhador recém-terminado, tudo seria subutilizado quando a gestão me enviasse para uma área de atendimento com enfoque totalmente diferenciado.
No final:
– Eu não tinha mais vontade de ir para o trabalho;
– Na estrada eu tinha pensamentos fantasiosos como “Puxa, se eu batesse o carro não precisaria trabalhar.”
– Não tinha mais vontade de atender os pacientes, e, quanto chegava a hora do almoço, ficava feliz porque metade do martírio já tinha passado.
Frente a tudo isso, quais foram as saídas que possibilitaram a mudança de carreira:
– Apoio familiar. Eu moro com a minha mãe e, quando liguei para ela dizendo que tinha sido transferida para uma área na qual eu realmente não queria trabalhar, além de todo o desrespeito com que fui tratada, ela me deu apoio em meu pedido de demissão;
– Saber que o que me vinculava aquele serviço realmente não existia mais e que, a partir daquele momento, continuar naquela cidade seria trabalhar apenas pelo salário- coisa que realmente nunca compensou para mim;
– Saber que lidar com uma gestão política que ia totalmente contra meus princípios e valores pessoais (o meu caso não foi isolado) só seria causa de estresse e possível adoecimento.
E, o mais importante:
– Ter um plano B em execução.
A página do Facebook já existia há cerca de 2 anos. Ela começou como um hobbie, mas, com muito trabalho e dedicação vinha atingindo números consideráveis de fãs. O site surgiu em consequência dela e é administrado em parceria com um engenheiro português que cuida de toda a parte técnica.
A partir do momento que saí do serviço público, comecei a trabalhar em tempo integral no site e nas outras redes sociais vinculadas a ele. Não existe nenhuma fórmula mágica, o trabalho é realizado em longas jornadas e existe toda uma logística de produção e veiculação de conteúdo. A diferença? Eu amo o que faço!
Trabalhar assim permite que sejamos nossos próprios chefes, mas exige muita disciplina pessoal.
Com disciplina é possível ter tempo para ficar mais com a família, viajar e até mesmo ajudar um familiar doente como é meu caso.
Hoje eu acordo tarde e vou passear com o cachorro, mas depois trabalho até quase meia noite. Esse é meu jeito, mas poderia ser diferente.
As lições:
– ter um hobbie que possa ser transformado em fonte de renda. Nossa vida nunca deve se resumir a uma única opção;
– saber que se pode contar com a família em um momento de decisão que poderia envolver riscos financeiros;
– saber que, mesmo que o trabalho atual não desse certo, eu teria total capacidade para realizar outros. Ter tido experiências de vida diferenciadas nos torna menos apegados e mais capazes para múltiplas funções.
– NUNCA, jamais ter medo de abandonar um trabalho que adoece. A sanidade mental vale mais do que qualquer salário do mundo;
-Não ser conivente com políticas públicas que não priorizam a comunidade. Se perdemos nossos valores pessoais, não nos sobra nada.
Hoje a CONTI outra é um site vem conquistando seu espaço mantendo o objetivo de apresentar informações que fazem pensar, sentir e crescer.
Sejam sempre bem-vindos!
Josie Conti
PROGRAMA ACESSO ESPECIAL: Josie Conti, Psicóloga e idealizadora do site www.contioutra.com