A violência, a pobreza e a exclusão são visíveis em nossa sociedade. Não há como negar, que homens, mulheres, crianças e adolescentes estão mendigando, consumindo crack, se prostituindo nas ruas de nossas cidades. Além disso, todos os dias são inúmeras as notícias de crimes, que operam na lógica da esquizofrenia e do parricídio.
Nesse contexto se avulta cada vez mais a riqueza escancarada, que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, em detrimento da exploração da dignidade humana, que não causa nenhum escândalo em alguns setores da sociedade.
No Brasil a maioria dos presos são jovens negros ou pardos, que foram abandonados pelos pais biológicos, ignorados pelo mercado e rejeitados pela sociedade. Não é por acaso – que uma parte expressiva – de adultos e jovens, que se envolvem em crimes de menor potencial ofensivo ou de crimes violentos letais, não conviveu com a autoridade do pai.
O Estado que é o executor das leis, bem como um pai perverso, que encarcera os seus filhos em prisões desumanizantes, transformando-os em sujeitos com tendências esquizofrênicas. Criaturas que sãos cooptadas pelas facções criminosas, e que buscam a vingança contra o Estado e a sociedade, uma referência simbólica ao parricídio.
A apatia diante dessa realidade revela a falta de projetos coletivos, que deram espaço ao discurso fundamentalista, como uma solução ilusória ao desamparo social. Hoje, a melancolia e a indiferença expõem a nossa desilusão pelo colapso das ideologias, que moveram o século 20, mas que cedeu aos desejos consumistas deste século.
Diante disso, a modernidade líquida tornou o sujeito um alienado digital, que deleta em sua tela os problemas, fazendo-o esquecer da experiência do afeto e da convivência humana, para buscar no sexo fácil, nas drogas, no álcool e no divertimento uma resposta ao vazio existencial.
É necessário acordar do sono anestésico a fim de enfrentar a vida real, pois a insanidade social que atinge a existência dos pobres é uma “bomba-relógio”. Aliás, nada se consolida na fluidez do mundo líquido, mesmo que uma minoria consiga viver em ilhas de prosperidade.
Então, devemos mostrar os perigos do retorno das ideologias autoritárias – sejam elas de esquerda ou de direita. Segundo o psicanalista Erich Fromm essas ideias necrófilas têm a admiração pela decadência, pela violência e pela morte, isto é a negação da vida, que também está na adoração do dinheiro, no culto à tecnocracia e às máquinas, e no desprezo pelos pobres.
Enfim, temos que nos opor as ideologias com disposição necrófila, propondo projetos com vocação biófila, que são motivadas pelo respeito à vida e pela felicidade. Ou seja, utopias psicoespirituais necessárias, como reação à injustiça, que é a raiz perversa da pobreza e como escuta ao grito dos pobres, que se torna mais forte de dia para dia, mas de dia para dia é menos ouvido, porque abafado pelo barulho de poucos ricos, que são sempre menos e sempre mais ricos, alertou o nosso Papa Francisco.
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