Eu sempre achei crudelíssima a frase: “homem não chora”. Eu me angustiava quando via o meu pai reprimindo os meus irmãos e pedindo para que eles engolissem o choro sob a justificativa “chorar é coisa de mulher”. Meu pai era um grande ser humano, mas reproduzia essa maldita herança machista.
Eu percebi que meus irmãos praticamente não choraram quando perdemos os nossos pais. Não que eles não estivessem em profundo sofrimento, contudo, era nítido o esforço que eles faziam para conterem as lágrimas. O oposto de mim, que, como sempre fui autorizada a chorar, fiz isso com toda a intensidade que me é peculiar.
Felizmente, não assimilei essa percepção desumana de que os homens não podem chorar. Mesmo tendo nascido num ambiente cheio de homens e fazendo parte de uma instituição historicamente masculina, sempre dei carta branca para que eles chorassem perto de mim ou para mim.
Eu adoraria que esse texto tivesse algum poder transformador, especialmente, para os homens. Eu o escrevo nutrindo a esperança de que alguns deles leiam e que sintam-se livres para exercer o direito de chorar. Eu queria que eles soubessem que eles são lindos e incríveis quando choram, e, que, nós, mulheres, não nos importamos quando eles mostram as suas fragilidades.
Quer coisa mais linda do que um homem chorando? Eu me encanto, sim. E pouco me importa o motivo do choro dele. Chore de emoção, chore de saudades, chore de dor, chore de medo, chore de angústia, chore de frustração, chore de gratidão, chore de contentamento, chore de euforia, chore de raiva, chore pelas razões que quiser.
Um dia desses, eu e minha turma do sétimo semestre de Psicologia tivemos o privilégio de assistir um grande homem se emocionando. O nosso professor Gilvan Gomes, Doutor em Sociologia, chegou na sala de aula, e, como era o dia internacional da mulher, ele dirigiu às mulheres da turma algumas palavras de homenagem. Ao final ele disse algo mais ou menos assim: se cheguei até aqui foi porque tive minha mãe e minhas irmãs me apoiando enquanto eu estudava. Elas cozinhavam para mim e cuidavam das minhas roupas, acho que eu as escravizei, afinal, elas deixaram de cuidar dos interesses delas para se dedicarem a mim. Ele ficou visivelmente emocionado e não foi capaz de concluir a mensagem por ter ficado com a voz embargada. Ali estava, um homem expressando gratidão e reconhecimento de uma forma tão linda que me inspirou esse texto. Obrigada, mestre!
Homem, chore à vontade, esqueça essa bobagem de que isso é demonstração de fraqueza. E, ainda que seja, qual o problema em mostrar-se fraco? Você é humano, tão humano quanto o direito de chorar.
Imagem de capa: Tracy Spohn/shutterstock