Parece-me que a honestidade anda em falta. Mas antes que os ânimos se exaltem, ressalto: não teremos conteúdo político por aqui. Vamos apenas falar deste bem preciso que tem sumido das nossas “prateleiras”.
Quando eu era criança, meus pais me ensinaram inúmeras formas de praticar a honestidade. Ensinaram que não era correto mentir e que a verdade tinha um valor inestimável; só nos era permitido mexer em nossos próprios pertences e nada de revirar os pertences dos outros; os objetos perdidos precisavam ser devolvidos ao dono, ainda que ficássemos tentados a recitar o famoso: “Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado”. Fomos instruídos e incentivados a manter uma postura correta diante da sociedade. Não tínhamos dinheiro, mas as lições de como se comportar eram oferecidas com fartura – e certa severidade, mas foram decisivas e inesquecíveis, posso garantir.
Àquela altura, eu inocentemente achava que todos estavam sendo educados para se comportarem da mesma forma.
Engano! O sumiço de materiais escolares e os “furos” na fila da merenda denunciavam que nem toda família estava tendo o mesmo capricho.
O passar do tempo trouxe à tona a dura verdade de que nem todos aprenderam a honestidade como princípio básico. É facilmente perceptível que muitos se tornaram adultos carentes de ensinamento e agora manifestam sérios sintomas de uma síndrome da desonestidade adquirida, uma doença social gravíssima que tem atingido cada vez mais pessoas.
São desonestidades disfarçadas de pequenas, praticadas aqui e ali, à luz do dia e diante dos nossos narizes. É o embolso do troco a mais que veio por engano; é um fingir que não reparou nos pedestres à faixa; é carregar criança alheia pra ser prioritário na fila da Loteria; é degustar sem pagar as frutas do supermercado; é uma vontade louca de ser considerado esperto quando na verdade tudo não passa de falta de honestidade.
Existem os desonestos de pequenas causas, como as citadas acima e esses são milhares, uma enxurrada. Mas existem os desonestos de grandes causas, onde as consequências geradas são de proporções gigantescas. Aqui se incluem as desonestidades políticas, mas sem detalhes neste tópico. É importante nos lembrarmos de que este será sempre um comportamento nocivo e desvirtuoso, independente do contexto.
O que parece não ser entendido, ou estar sendo feito de rogado, é que não ser honesto é contar uma espécie de mentira para as outras pessoas e para si mesmo. É criar um enredo, fictício, de que se tem um propósito maior, quando na verdade o único propósito é o beneficio próprio. A tentativa de aliviar a consciência não passa disso, de tentativa.
Precisamos aprender a admirar a beleza que tem a honestidade, o falar a verdade, o agir corretamente ainda que ninguém esteja olhando, o fazer o que é justo ainda que os benefícios sejam poucos.
Precisamos voltar a ter palavra, e fazê-la firme e indubitável; precisamos ensinar nossas crianças que estar acima de qualquer suspeita não pode ser uma máscara e sim, um sinal de transparência.
E acima de tudo, temos que fazer com a honestidade seja valorizada e considerada um item valioso, a ponto de ser ensinada desde o berço, e fazendo valer o conselho de Shakespeare: “nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade.”
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