A idade dos seus anos

A vida começa a morrer quando deixamos de desejar, de fazer planos, de marcar uma data importante, num futuro próximo, que venha acompanhada da realização de uma meta.

A vida começa a morrer quando deixamos de ter metas próximas e distantes.

Essa história de que “não desejo mais nada”, “tenho mais do que pedi a Deus”, ou ainda “ tenho mais de que mereço”, pode ser muito altruísta, mas é uma verdadeira armadilha no processo normal de uma vida significativa.

May Sarton, poetisa e novelista americana, viu a mesma coisa em outras palavras:

“Creio que a verdadeira velhice começa quando se olha para trás, em vez de para frente.”

Também creio.

Quando vivemos em torno das conquistas que obtemos, erigindo altares ao passado, nos esquecemos que desejar é viver, e que, enquanto estamos vivos, merecemos a emoção de novas aventuras.

Em consequência desse “olhar para trás”, em qualquer idade, adquirimos uma velhice prematura.

O envelhecimento pode trazer uma seleção natural de desejos.

É normal que não se deseje tanto, posto que muitas metas foram batidas no decorrer da existência, mas ainda assim é preciso querer mais.

Ou, pelo menos, manter um expectativa de rotina que possa ser quebrada com alguns extras adicionais, como uma viagem, por exemplo.

Não qualquer viagem, mas uma que venha acompanhada de novas emoções e novos conhecimentos.

Um reforço na aquisição de novidades de vida devem ser providenciados, mesmo que isso nos custe o preço de renunciar ao conforto do mundo conhecido.

É preciso que, de tempos em tempos, sejamos surpreendidos por uma nova paisagem, que nos transporte para o centro de uma nova terra, a ponto do novo se inserir por dentro de nós, nos fazendo descobrir habilidades e inclinações que nunca antes existiram.

Eu não creio que seja difícil manter a meta do desbravador, uma vez ao ano.

Mais difícil é conviver com os dias comuns, quando nada desejamos, e a rotina se instala, e cria mecanismos que nos aprisionam ao universo de hábitos, cuja eficiência não ousamos contestar.

Tudo o que fazemos repetidamente, fazemos bem. Desde o café aos exercícios da academia.

E por isso que, de tempos em tempos, o instrutor muda as regras e estabelece novos desafios.

Com a vida não é diferente.

Se quisermos crescer, extrapolar limites, precisamos quebrar paradigmas, e despender esforços adicionais que nos tirem da zona de conforto.

Uma ferramenta muito útil para isso são as listas de tarefas.

Quando fazemos uma lista de tarefas, estamos obrigatoriamente reconhecendo que alguém deverá cumpri-las.

E quando esse “alguém” atende pelo nosso nome e sobrenome, fica evidente que somos, ao mesmo tempo, o empregado e o patrão da nossa empresa.

A vida é uma empresa.

Se ela funciona bem ou mal depende do indivíduo que está no controle acionário.

Depende das metas que estabelecemos para ela.

Depende do quanto investimos em seu funcionamento.

Depende do quanto acreditamos nela.

O indivíduo que não acredita na sua empresa deve esperar a decadência e a morte do seu negócio, tanto quanto aquele que não acredita na necessidade de renovar a vida.

Para que a vida tenha vida, monitore o seu tempo.

Cobre-se.

Liste as atividades comuns, e adicione atividades novas que envolvam interação social.

O simples fato de escrever a tarefa será a mola propulsora do fazer.

Noventa por cento das pessoas que fazem lista de tarefas diárias as cumprem, senão todas naquele dia, pelo menos nos três dias subsequentes.

Olha o poder que uma lista de tarefas tem!

Sabe aquela tarefa que você vem adiando há tempos?

Basta lista-la logo de manhã, no meio das coisas banais que não lhe cobram tanto esforço, para ela ser, finalmente, iniciada, e concluída.

Olhar para a frente, inclui atividades novas que nos livrem do automatismo, que nos libertem de uma vida extremamente metódica, para o nosso próprio benefício.

Preparar-se para viver, é também viver.

Não vivemos uma viagem apenas quando estamos viajando, mas muito antes, quando começamos a ler sobre o lugar que iremos visitar, e nos antecipamos às escolhas que faremos.

As listas parecem um método e são. Elas são o melhor método para buscarmos novas experiências que darão sabor à existência, em qualquer idade dos nossos anos.

Imagem de capa: Goami/shutterstock

Ana Maria Ribas Bernardelli

Estudante de humanas-idades, cidadã do céu e da terra, escritora por compulsão, leitora de letras, de pontos, de reticências, e de linhas, interventora de paisagens, solitária por opção, gregária por necessidade, gosto de músicas, filmes em que só as pessoas acontecem, documentários, biografias, e todas as obras de Clarice Lispector e de Watchman Nee. Vivo a espiritualidade, sem religião. Não tenho afinidades com rituais e com scripts que se repetem. Amo a liberdade, os animais, as plantas, os velhos, as crianças, e todos os seres que se sentem estranhos no ninho. Fujo de superficialidaes, e não tolero nenhum tipo de injustiça, crueldade, ou tirania. Adoro a Deus e a ele quero servir. Escrevo para organizar a vida, para aguentar o tranco, e em cada texto meu, você me encontrará. Espero que eu também lhe encontre no meu email, no meu site, e nos meus endereços nas redes sociais. Feliz por estar com vocês!

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