Esqueci nosso aniversário de namoro. Sou terrível com datas. Sou terrível com milhões de outras coisas. Mas não é disso que quero falar. Não exatamente. Comentei na internet o ocorrido, já passado, já rido, já perdoado, e fui cercado por uma enxurrada de críticas, em tom carinhoso e amável, claro, mas com seu fundo de verdade – Mas você não é o cara que fala tanto sobre o amor?
Esse mesmo. Estou sempre falando sobre o amor, muito mais sobre o que descubro sobre ele do que sobre as coisas que penso saber. Falo muito mais sobre a tentativa do que o êxito, falo muito mais sobre a intenção do que a ação em si. Sim, os poetas, os românticos, nós, também esquecemos datas, mas ninguém comenta que deixamos bilhetes apaixonados todos os dias, que gritamos na rua o quanto amamos, que damos presentes em horas inapropriadas, que dizemos do nosso amor uma segunda vez repetida por puro e delicioso esquecimento.
Nunca falei de amores perfeitos, de pessoas impecáveis. A natureza do que escrevo parte sempre da beleza da imperfeição, das miudezas, da delicadeza que há em se assumir errado, pedir perdão. Não posso falar do que é perfeito justamente por desconhecê-lo. Sou errante, inconsequente, sem paciência, falo palavrão, tenho insônia, preguiça, ciumes, inseguranças, saudade de quem não devia.
Eu estou quase sempre na contramão, jamais ditando regras, jamais apontando dedos, jamais me colocando no lugar de melhor ou superior. O que sempre digo é que somos parecidos. E quando alguém me lê de volta, me acena com o braço alto, sinto por dentro que também não estou só em minhas tentativas. Sim, esqueço-me de datas, mas jamais do dia em que nos conhecemos. Um dia o amor imenso que sinto há de me redimir e também me fazer maior.