No ano de 2010 eu terminei o colegial. Sabia que não queria entrar direto na faculdade; queria ficar um ano sem grandes cobranças, descansando depois de ter concluído mais de 15 anos de colégio. Estava cansada e tinha a oportunidade de fazer isso.
Nessa época eu morria de vontade de passar um tempo na Europa, fazendo qualquer coisa, conhecendo vários lugares. Me formei então e, aos 17 anos, arranjei meu primeiro emprego: atendente de um café na rua Augusta.
Trabalhei por alguns meses e consegui juntar um dinheirinho; era a primeira vez que eu tinha um dinheiro meu, fruto do meu próprio trabalho e que eu ia poder usá-lo como bem entendesse. Mas infelizmente, não foi suficiente para passar o tempo que eu queria na Europa: tenho a sorte – e o privilégio – de ter pais que me ajudaram.
Também nunca tinha viajado sozinha, e na época fiquei triste por não ter ninguém pra ir comigo. Mas fui mesmo assim, não ia deixar de fazer algo que estava sonhando há tempos, por falta de companhia.
E isso mudou toda a minha vida. Passei três meses na Europa.
Conheci pessoas maravilhosas, algumas que eu tenho amizade até hoje, mas na grande maioria do tempo eu estava sozinha. Eu era nova, nunca tinha ficado tanto tempo sem ninguém e muito menos ido pra tão longe assim sem nenhum adulto.
Passei os maiores perrengues que já tive o azar (ou a sorte?) de passar.
Dormi uma noite na estação de trem de Milão pois cheguei na cidade no dia de um grande evento e não tinha UMA cama disponível na cidade inteira. Fui roubada em Barcelona e passei dia inteiro na delegacia. Fiquei sem dinheiro, cartão e câmera fotográfica quase o mês inteiro. Peguei os famosos bed bugs e tive que ir pro hospital.
Peguei um ônibus errado indo de uma cidade pra outra na Itália e acabei indo pra cidade errada. Andei kms e kms debaixo do sol do verão europeu por ruas de pedra com uma mala enorme de rodinha, e por aí vai. Situações que quase todo mochileiro de primeira viagem passa, e que nos fazem aprender.
Chorei de desespero. Chorei de raiva. Chorei de saudade. Chorei de felicidade.
Eu era muito nova, tava começando a entender o mundo (continuo começando, mas hoje um pouquinho mais) e tudo o que eu passei nesses três meses pela Europa, todas as pessoas que eu conheci, os lugares que eu visitei, as horas e horas corridas que eu fiquei completamente sozinha, as vezes que eu me perdi, os perrengues que eu passei foram essenciais pra eu me tornar quem eu sou hoje.
Foi pelos perrengues passados na Europa que hoje eu sou confiante o suficiente pra ir passar um mês na Índia, na Turquia, no Myanmar ou onde quer que seja.
Foi pelo tempo que eu passei comigo mesma na Europa que hoje eu não sinto que eu precise de ninguém pra fazer o que eu tenho vontade. Que eu sei que eu me basto.
Foi pelos bons momentos que eu passei na Europa, que hoje eu sei que o que me faz mais feliz é viajar.
É quando a gente viaja sozinho que a gente percebe que nós somos capazes de qualquer coisa. E não existe sensação melhor do que ver por si próprio que você é capaz sim!
Muita gente vem falar comigo pra me dizer que sonha em viajar, mas não tem companhia e morre de medo de ir sozinho. E eu entendo, eu também já passei por isso. Dá medo mesmo, dá um frio na barriga e no final muita gente acaba desistindo de ir por causa disso, vai sempre deixando pra depois.
Mas meu conselho é: VAI!
Não espere que ninguém te pegue pela mão e te mostre o mundo. Você provavelmente vai precisar fazer isso por si só. E não tem o menor problema fazer isso sozinho. Te garanto que você vai amar.
Se o medo é muito grande, comece por lugares aqui por perto.
Você vai se descobrir que um jeito que nunca imaginou. Vai se surpreender cada vez mais consigo mesmo.
Não tenha medo, você vai quebrar a cara muitas vezes mas vai se levantar e continuar andando em todas elas, faz parte. E isso vai te fazer aprender.
É viajando sozinho que você se conhece de verdade.
É viajando sozinho que você percebe que você é capaz.
Gostei tanto de viajar sozinha aos 17 anos que não parei até hoje.
E pretendo não parar nunca mais.
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