Tive um primo de inteligência fulgurante. Éramos da mesma idade. Aos oito anos brincávamos de soldadinhos de chumbo. Mas seu prazer era um dicionário comparativo de português, francês, inglês e alemão que estava fazendo.
Eu olhava para aquele livro enorme de capa preta, daqueles que os contadores usavam para registrar a contabilidade de firmas, cada página dividida em quatro colunas, uma para cada língua.
Na escola, quando tirava 98 numa prova ele batia com a palma da mão na testa em desespero e dizia: “Fracassei”. Dele jamais se poderia dizer que foi mau aluno. Seu brilho prometia uma vida de vitórias. Adulto, pela manhã, ao levantar, o seu primeiro gesto era ligar a fita da língua que estava aprendendo.
Veio a conhecer doze línguas. Não sei direito para quê. Que utilidade poderia lhe ter a língua húngara? Os benefícios de falar húngaro eram desproporcionais ao esforço de aprendizagem. Como psicanalista, eu pergunto: Será que ele estava em busca da língua desconhecida que lhe permitiria entender a Babel da sua alma?
Muitos brilhos são chamas de um coração infeliz. Lançou-se do sétimo andar de um prédio. Não suportou o sentimento de fracasso que lhe deu um discurso – pelos seus critérios, o tal discurso não era merecedor da nota 10.
Matou-se por não suportar a vergonha de um pequeno fracasso. Esse é o perigo de querer ser perfeito. Não conheço nenhum estudo que explore as relações entre genialidade e loucura. Mas deve haver.
Conheci um homem que se vangloriava por ter um QI acima de 200. E trazia sempre consigo a carteira de Membro dos Gênios de QI acima de 200. Acho que para certificar-se de que era inteligente. Quando os outros não concordavam com ele julgava-os burros e ele, um incompreendido. Autoritário.
Quem se julga possuidor de QI 200 e se gaba disso tem de ser autoritário. Não saltou do 7o. andar apesar de ser um chato presunçoso. Não sei onde andará. Suspeito que tenha se mudado para o país dos homens com QI acima de 200.
Rubem Alves,
No livro ” Ostra feliz não faz pérola”
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