Quem vê essa simpática velhinha, não imagina o que ela fez.
Em 1942, os nazistas criaram o famigerado gueto de Varsóvia. Irena, horrorizada pelas condições em que ali se sobrevivia, uniu-se ao Conselho para a Ajuda aos Judeus, Zegota. Ela mesma contou em suas memórias:
Consegui, para mim e minha companheira Irena Schultz, identificações do gabinete sanitário, entre cujas tarefas estava a luta contra as doenças contagiosas. Mais tarde tive êxito ao conseguir passes para outras colaboradoras. Como os alemães invasores tinham medo de que ocorresse uma epidemia de tifo, permitiam que os polacos controlassem o recinto.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu a autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além… Sabia quais eram os planos dos nazistas relativos aos judeus. Ela sabia que os planos incluíam a execução de todos eles, homens, mulheres, idosos, crianças…
Quando Irena caminhava pelas ruas do gueto, levava uma braçadeira com a estrela de David, como sinal de solidariedade e para não chamar a atenção sobre si própria. Assim ela se mimetizava com os judeus do gueto, que eram obrigados a usar a estrela.
Ela rapidamente entrou em contato com famílias, a quem propôs levar os seus filhos para fora do gueto, mas podia garantir que iam sobreviver. Eram momentos extremamente difíceis, quando devia convencer os pais que esses lhe entregassem seus filhos. Geralmente, lhe perguntavam:
“Pode prometer-me que o meu filho vai viver?”.
Ela negava sempre. Por mais duro que fosse, pois era a verdade.
“Quem podia prometer, quando nem sequer sabíamos se conseguiríamos sair do gueto?”
A única certeza era a de que as crianças morreriam se permanecessem lá. Muitas mães e avós eram reticentes na entrega das crianças, algo absolutamente compreensível, mas que viria a se tornar fatal para elas. Algumas vezes, quando Irena ou as suas companheiras voltavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de opinião, verificavam que todos já tinham sido levados para os campos da morte.
As famílias que aceitavam exportar seus filhos para fora do gueto cercado nazista o faziam com muita tristeza e medo.
Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminhonete (para crianças maiores).
Ela começou a recolher as crianças em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo se valia de todo o tipo de subterfúgios que servissem para os esconder: sacos, cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, caixões… nas suas mãos qualquer elemento transformava-se numa via de fuga.
Irena também levava na parte de trás da camioneta um cão, que havia treinado para ladrar aos soldados nazistas quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão aparentemente feroz, e os latidos frenéticos tinham como objetivo encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer lá atrás.
Enquanto pôde manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2.500 crianças.
Mas um dia, deu ruim!
Os nazistas apanharam-na. Em 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada.
Num colchão de palha, encontrou uma pequena estampa de Jesus com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a com ela até 1979, quando a ofereceu como um presente ao Papa João Paulo II.
Irena havia criado um arquivo secreto com os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias. Ela suportou a tortura e negou trair seus colaboradores ou revelar onde estavam as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas os nazistas não conseguiram quebrar a sua determinação.
Percebendo que não iriam arrancar nada dela, esperaram que ela se recuperasse e condenaram-na à morte.
Enquanto esperava pela sua execução, Irena recebeu uma visita de um soldado alemão. Ele disso que ia levá-la para um “interrogatório adicional”.
Ao sair da prisão, ele gritou-lhe em polonês: –“Corra!”
Já imaginando que seria baleada pelas costas, Irena, contudo, correu e jogou-se por uma porta lateral. Ela fugiu, escondendo-se nos becos cobertos de neve até ter certeza de que não estava sendo seguida.
No dia seguinte, já abrigada entre amigos, Irena descobriu seu nome na lista de poloneses executados pelos alemães. Essas listas saíam nos jornais.
Os membros da organização tinham conseguido deter sua execução, subornando os alemães. A partir dali Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.
Ela ainda mantinha o registro com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, guardadas num frasco de vidro enterrado debaixo de uma árvore no seu jardim.
Depois de terminada a guerra, Irena tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir as famílias. A maioria, entretanto, tinha sido levada para as câmaras de gás. Para os órfãos, ela ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adotivos.
Em 2006 seu nome foi proposto para receber o Prêmio Nobel da Paz… Mas ela não foi selecionada. Quem o recebeu foi Al Gore por sua campanha sobre o Aquecimento Global. Ela morreu em 12 de maio de 2008.
“A razão pela qual resgatei as crianças têm origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade.“
– Irena Sendler
Fonte: Mundo Gump