CORONAVÍRUS

“Já ficamos um ano sem aula. Mais um é inaceitável”, alertam pediatra e infectologista

A pandemia do novo coronavírus, ainda em curso, já fez centenas de milhares de vítimas no Brasil, escancarou a desigualdade social que assola o nosso país, expôs as deficiências na saúde pública, afetou a economia, e continua a jogar luz sobre as consequências desastrosas de problemas antigos, mas para os quais só abrimos os olhos recentemente: o negacionismo e a desinformação, que se alastram entre os brasileiros com impressionantes velocidade e potência nos últimos tempos.

Mesmo que as vacinas contra a Covid-19 tenham nos feito enxergar uma luz no fim do túnel, ainda estamos vivendo a pandemia e ainda contabilizamos perdas. Talvez ainda não seja possível dimensionar a totalidade dos estragos que nos serão legados da maior crise de saúde que já vimos, porém já é possível ter uma ideia de quais são as questões às quais devemos concentrar maiores esforços e atenções daqui em diante. Neste sentido, vale destacar a dificílima situação que envolve os muitos estudantes que passaram quase um ano fora das salas de aula devido à pandemia, e que retornam agora às aulas presenciais. Os governos de pelo menos 10 Estados marcaram a volta às aulas em fevereiro enquanto o de outros seis, incluindo o DF, para março.

Para muitos, ainda é cedo para abolir de vez as aulas online, considerando que as aglomerações ainda trazem risco de contágio para professores e alunos. Já para outros, não dá mais para manter os alunos longe da escola. É o caso da pediatra Ana Escobar, que apoia o retorno imediato das escolas. “Manter as escolas fechadas não está protegendo a maioria das crianças da pandemia e ainda as expõe a uma série de outros riscos como desnutrição, violência e déficit de aprendizado. Já ficamos um ano sem escola, mais um é inaceitável. Principalmente se a gente pensar nas crianças vulneráveis, porque em casa não tem estrutura pra aprender, os pais não conseguem ajudar, não tem com quem deixar, como alimentar, a escola tem que estar lá, não dá mais para esperar”, disse a profissional ao El País.

A pediatra ainda diz que estudou os protocolos de segurança estabelecidos pelo Governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo contra a pandemia para a volta às aulas e concluiu que as medidas são suficientes para garantir um retorno seguro. “Pelo que a gente viu, tanto as escolas particulares como públicas fizeram adaptações importantes e estão se preparando para fazer uma volta às aulas segura”, diz. Segundo ela, nas escolas públicas funcionários, professores e alunos vão receber equipamentos de proteção pessoal como máscaras e kit de higienização das mãos, e está sendo tomado um cuidado maior para equipar banheiros com papel e sabão. “As salas também estarão com as janelas abertas e com a capacidade de alunos reduzida, será possível manter o distanciamento social. Com isso temos a maior segurança possível para as crianças, funcionários e famílias”.

“As escolas que já reabriram ao redor do mundo não causaram uma explosão no número de casos, não foi constada essa relação de causa e efeito em lugar nenhum”, diz a pediatra. Ela afirma que estatisticamente é possível afirmar que a transmissibilidade do novo coronavírus é menor entre crianças e que a quantidade de casos que evoluem para estágios graves da doença são raros nessa população.

O infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, concorda que não dá mais para esperar. “Como sociedade é prioridade voltarmos nossos esforços para que as crianças voltem às escolas”, afirma Otsuka. O médico apoia o retorno pois, segundo ele, já foi possível constatar que a doença em crianças e adolescentes não costuma manifestar-se de forma violenta e causar complicações. “No geral, nessas faixas etárias o vírus não é muito diferente de vários outros que não fecham escolas”, afirma.

Ele diz, no entanto, que diversos fatores devem ser observados para que o retorno seja feito em segurança. “As crianças transmitem, então algo que os pais devem considerar antes de mandar para a aula é se essa criança convive com algum idoso ou pessoa dos grupos de risco. Se sim e se for possível, talvez seja melhor esperar mais um pouco”, diz. Otsuka também cobra rigor na aplicação de medidas de segurança contra a covid-19 como barreiras físicas entre os alunos, equipamentos de proteção pessoal para todos, uso de máscaras obrigatório, sabão, água e álcool em gel disponível nas escolas, entre outras coisas.

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Redação Conti Outra, com informações de El País.
Foto destacada: Reprodução.

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