Jogando o mal pela janela…

Por Joana Nascimento

Defenestrando males tácitos*

Numa época em que boa parte da população brasileira – não somente parcela de cidadãos que faz panelaço em suas varandas gourmet -, se reúnem em grandes mobilizações sociais (?) a fim de pedir o impeachment da presidente Dilma Roussef, certos de que estarão banindo do mais alto grau administrativo da república brasileira um mal maior, vou me dedicar a dissertar sobre como é possível promover uma melhoria inimaginável na vida, apenas se livrando de miudezas imbuídas de um prejuízo velado a você mesmo. 

Abrindo aqui parênteses para deixar claro que não tenho menor intuito de me posicionar quanto a estar do lado dos que foram às ruas, dos que criticaram os que foram às ruas ou ainda dos que estão em outro caminho diferente dos dois grupos.

Retomando… não é preciso, parar a tão sonhada leveza do ser (tão sonhada que intitulou um daqueles Best-sellers de auto ajuda) de que algo de grandes proporções nos acometa para que, como consequência inevitável, nossa vida se reoriente.

Muitas vezes, não é necessário que reinventemos a roda. Para que conquistemos a tal paz interior, que, a cada vez mais tem estado no cerne de anseios da sociedade contemporânea, basta pensar com razoabilidade.

A panaceia do mundo, salvas as devidas proporções, reside no mero auto conhecimento acompanhado de um poder de análise.

Somos capazes de apontar diversos males do universo, aqueles que atingem multidões e provocam mazelas em todo um povo e uma época. Mas talvez, se solicitados, não saibamos sinalizar os nossos pequenos vícios que geram moléstias individuais e até coletivas. A nossa capacidade de nos fazer mal é muito maior do que os danos que um terceiro pode nos causar. Essa potencialidade negativa nos passa despercebida. E é mais perigosa, pois é tácita.

DEFENESTRE*!

Elimine o que não é produtivo, engraçado, pacificador, tranquilizante, provocador de risos, edificante, elucidativo. Jogue para longe o que te induz a pensar que és menos do que realmente é.

Como aquela obsessão que você tem de postar selfies, quase implorando por curtidas; não é isso que vai te fazer se sentir querido. Ou quando você publica todos os momentos que você julga imperdíveis aos seus contatos, acompanhados de hashtags mirabolantes (infeliz mecanismo de comunicação das redes sociais que teve sua razão totalmente diluída nas inutilidades dos usuários); isso é o que você demonstra virtualmente, mas não é o verdadeiro panorama de sua vida.

Ou quando você insiste em sair com aquela turma que te faz se sentir inferior, sob qualquer que seja o aspecto; não são eles os seus amigos que entendem o real conceito de amizade. Ou no trabalho, quando você acredita nos que maximizam seus erros e tornam seus feitos como coisas pífias; não são esses o que vão te dar um feed backcerteiro de sua vida profissional.

Ou quando você se anula para poder agradar seus familiares; não é essa a aprovação que você precisa. Ou quando você projeta seus sentimentos e todos seus esforços em tentar fazer alguém feliz numa pessoa que mal sabe quem é você e que te coloca em órbita, fora de todos os círculos de sua vida; essa não é, nem de longe, a pessoa a quem você deve entregar o melhor que guardou de si.

Auto sabotagem. É isso. Ceder a todos essas imposições do imaginário coletivo – e de seu próprio – como as situações supracitadas. É como você boicotar a si mesmo. Não é difícil entrar nesse redemoinho pernicioso. Também não é fácil compreender que você está nessa situação e, menos ainda, se livrar desse imbróglio silencioso.

Nessa mesma toada, vivia Holden Caulfield, o protagonista de ‘O apanhador do campo de centeio’ (J. D. Salinger), um adolescente norte americano, aborrecido e rebelde pela causa obrigatória de ser assim, naquele contexto em que vivia – a discordância era característica intrínseca ao jovem da época.  O descontentamento que sentia em relação à sua vida, principalmente em relação aos pais, nada mais era do que a sua mania vazia de contestar por contestar.

Na mesma armadilha secreta caiu Jerry Falk, personagem vivido por Jason Biggs, no longa metragem ‘Igual a tudo na vida’, de Woody Allen. O jovem se via preso em duas amarras que tolhiam todo o fluxo de sua trajetória: não conseguia se desapaixonar da temperamental e leviana Amanda (Christina Ricci), nem largar o empresário bufão Harvey (Danny DeVito) que cuidava da sua carreira. O paradoxo era que, temendo sofrer de amor e ter fracasso na vida profissional, Jerry vivia nesse emaranhado cíclico: sofrendo de amor e sendo um fracasso, sem ter consciência disso.

Portanto, o primeiro dos males a ser eliminado é o tácito.

*Tácito: Implícito; que está subentendido e, por isso, não precisa ser dito; que não se pode traduzir por palavras.

*Defenestração é o ato de atirar algo por uma janela. Refere-se, contudo, mais especificamente ao ato de atirar pessoas de uma janela com a intenção de as assassinar ou ao caso de suicídio. O termo provém da palavra latina para janela, fenestra.

contioutra.com - Jogando o mal pela janela...Joana Nascimento 

Sou jornalista e aspirante a produtora e crítica cultural, e, bem incipiente, roteirista de cinema.
Acredito piamente no conhecimento do maior número de textos teóricos, narrativos e imagens como forma de evolução mental e espiritual.
Embora tenha vontade, sei que uma pessoa não muda o mundo, mas creio que cada cabeça individual é um universo diferente, e este, nós podemos melhorar sempre. O impacto positivo no todo externo será sempre progressivo e crescente.
Gosto de escrever sobre existencialismo e condutas de vida, sempre fazendo analogias com filmes, livros, música e teatro. Conheça mais em www.joananasc.blogspot.com.br.






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