Aprenda a jogar no seu time, não no do adversário

“A vida é como um time de futebol: você não deixa de torcer pelo seu time quando ele perde ou cai na divisão, certo? Com a vida é do mesmo jeito, não podemos abandoná-la quando as coisas vão mal”. Assim ensina Domingos Oliveira em sua peça Clímax.

O problema é que temos a estranha mania de jogar contra nós.

Queremos emagrecer, porém não deixamos de comer besteiras ou beber uma tacinha de vinho todo santo dia.

Queremos novas oportunidades de trabalho, mas não vamos ao encontro delas; reclamar dá menos trabalho do que arregaçar as mangas e ir à luta.

Queremos viver um grande amor, mas nos comportamos como se quiséssemos, apenas, sexo casual.

Estamos endividados, todavia continuamos gastando dinheiro com coisas supérfluas.

Reclamamos de solidão, porém quando um amigo nos convida para tomar um chopinho ficamos com preguiça de sair de casa.

Reclamamos da rotina, mas se o telefone toca no meio da tarde de um domingo com algum convite inusitado tendemos a não aceitar.

Invejamos as viagens dos amigos no Facebook, no entanto não guardamos dinheiro para fazer nossas próprias viagens.

Tratamos com indiferença e silêncio glacial pessoas que nos são caras, mas pisaram na bola; queimamos por dentro de raiva ou saudade, quando na verdade o melhor seria chamar essas pessoas para uma conversa franca.

Queremos nos tornar mais cultos, todavia não desligamos a televisão, não trocamos Glória Perez por um Dostoiévski.

Queremos tempo livre para arrumar o armário ou a estante de livros, mas não saímos da Internet.

Queremos comer melhor, de maneira mais saudável, no entanto temos preguiça de lavar um pé de alface e cozinhar alguns legumes para bater uma sopa.

Queremos não tratar como primeira opção quem nos coloca sempre em segundo plano, porém quando nos damos conta estamos ofertando afeto a quem não merece.

Queremos uma pele de pêssego e não vamos ao dermatologista e, quando vamos, não temos paciência para usar os creminhos indicados todas as noites.

Em que time, afinal, estamos jogando?

Estamos jogando a nosso favor ou no time adversário (leia: frustração)?







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.