Neste domingo (12) se celebra o Dia das Mães e, para a jornalista do Espírito Santo Joviana Venturini, de 51 anos, a data que poderia trazer tristeza vai ceder lugar à alegria e ao espírito solidário. Pelo segundo ano consecutivo, ela vai oferecer um almoço a pessoas que, assim como ela, já perderam as mães ou estão longe delas. A ideia é que ninguém precise passar a data sozinho ou triste se não quiser.
O Dia das Mães passou a ser uma data difícil para a Joviana desde que ela perdeu a sua mãe, dona Maryse Venturini, há 18 anos.
“Tenho minhas filhas, mas ainda sofro e choro de saudades! No ano passado, resolvi ressignificar a data e convidar algumas pessoas que perderam sua mãezinha ou estavam longe delas para almoçar comigo na minha casa. Fiz um almoço gostoso para o movimento dos ‘sem-mãe’. Nos abraçamos, rimos e até choramos lembrando coisas boas que essas mulheres nos ensinaram!”, contou a jornalista ao g1.
Joviana conta que a ideia surgiu quando ela conversava com o colega de trabalho, Heberton Silva, 30 anos, que perdeu a mãe, Neusa de Oliveira, em 2016, e também ficava com esse sentimento no Dia das Mães. Primeiramente, ela convidou apenas o colega para almoçar, depois, decidiu chamar mais pessoas para o almoço.
“Um dia, a gente conversava sobre como eram as nossas mães. E elas pareciam iguais, as duas muito animadas. Assim surgiu o almoço dos ‘sem-mãe’. Depois que a minha mãe faleceu, os dias das mães ficaram muito difíceis. Eu até evito falar, não gosto muito, sinto falta dela, mas ao longo dos anos a gente acaba se conformando”, lembrou Heberton.
Em 2023, a jornalista usou as redes sociais para divulgar o convite, assim como neste ano. Ela escreveu o seguinte:
“Alguém de vocês perdeu a mãe ou está longe dela? Neste ano, como em 2023, vou fazer um almoço e reunir algumas pessoas que já não têm suas mães. Não será nada sofisticado, mas feito com carinho para honrar a memória da minha mãe, Maryse, que sempre tinha a casa cheia e espalhava afeto por onde passava. Quer arriscar e comer um almocinho feito por mim? rsrs. Então, vem passar o Dia das Mães comigo?”
Na primeira edição do almoço de Dia das Mães na casa de Joviana, quinze pessoas compareceram. Além da jornalista e as suas duas filhas, estavam as sobrinhas, que também ficavam sozinhas desde quando perderam a mãe na pandemia, amigos diretamente convidados e outros viram a mensagem na rede social.
Somente uma das pessoas presentes não era conhecida da dona da casa.
“Uma mulher fez contato pela internet, disse que tinha ficado sabendo do almoço e perguntou se poderia ir e contribuir! Eu topei! Ela participou e foi ótimo!”, contou a jornalista.
No cardápio do almoço, teve bobó de camarão, a especialidade da Joviana. Quem aceita o convite do almoço não precisa levar nada, apenas se quiser. No ano passado, as pessoas acabaram contribuindo com as bebidas e sobremesa, o que deve se repetir esse ano.
“Não é nada sofisticado, nada de mesa posta com todo mundo só sentadinho ou com cerimônia. É sem formalidade, como se fosse um almoço na casa da mãe da gente mesmo. A ideia é não ficar sozinho! Esse ano é bobó de novo, não deu tempo de aprender outra coisa – brinca -, mas também vai ter franguinho assado, maionese e farofinha, caso alguém não coma camarão. Pode até levar marmitinha na hora de embora!”, falou.
A professora Marinele Seabra, de 43 anos, foi uma das participantes do almoço em 2023. A mais nova de oito filhos, ela cresceu tendo como exemplo a dona Marinete Seabra, que morreu em 2020, devido a sequelas de um AVC agravadas após a covid-19.
“Minha mãe conhecia toda a comunidade de Santos Dumont, onde eu nasci e cresci. Sempre vi ela sendo muito acolhedora, já era sempre preocupada com todos os filhos e amigos dos filhos, mas isso se estendia para os vizinhos também. Ela gostava de cuidar, estava sempre ajudando, fosse pegando e distribuindo as encomendas que os Correios deixavam lá porque não subiam a parte alta do morro ou nos almoços de domingo. Cresci com a casa cheia!”.
Marinele soube do almoço porque é amiga de uma das sobrinhas da Joviana.
“Achei a iniciativa muito bonita! Vi que muitas pessoas sozinhas como eu, sem filhos, puderam estar juntos, compartilhar experiência. Chegaram a me perguntar depois se não foi triste, e não foi! Fiquei feliz em participar, demos risadas, teve até karaokê. Achei interessante porque chegou até uma convidada que ninguém conhecia, falou da vida dela, se emocionou. Todos nos sentimos muito acolhidos!”
Este ano, a professora vai de novo e deve até se arriscar na cozinha. “Com certeza estarei lá e, dessa vez, com meu pratinho! Minha mãe sempre fez carne de panela, na panela de pressão. Vou tentar copiar e chegar o mais próximo possível”, revelou animada.