Com o auxílio das políticas de inclusão, muitos estudantes pobres e de classe média baixa ingressaram nas universidades públicas nos últimos anos. Na USP, a porcentagem de alunos provenientes de escola pública subiu de 28,5% em 2013 para 41,8% em 2019. Porém, mesmo após terem passado no vestibular, estes estudantes de classe média baixa continuam enfrentando mais obstáculos que seus colegas de outras origens.
Muitos desses alunos têm de conciliar a pesada carga horária de estudos com o trabalho, superar a defasagem na qualidade de ensino que tiveram, passar horas e horas no transporte entre a periferia a USP, suportar a insalubridade de moradias estudantis, competir por bolsas e intercâmbios com colegas que já falam várias línguas e se enturmar em um grupo socioeconômico diferente.
Um exemplo das dificuldade enfrentadas pelos alunos da periferia na USP é o do estudante de ciências sociais Thiago Torres, de 19 anos, criado em uma favela na Brasilândia, zona norte da capital paulista. Ele conta que um dos piores momentos que viveu na universidade aconteceu quando ele estava entrando na Cidade Universitária para ir a uma festa dentro do campus. Assim que cruzou o portão com os amigos, três carros da Guarda Universitária abordaram os jovens, que foram obrigados a mostrar a carteirinha de estudante. “Para mim foi bem simbólico das barreiras que quem é pobre, da periferia, enfrenta. E se eu não fosse aluno, não poderia entrar? A universidade não é pública?”, diz ele à BBC News Brasil.
Quando pisou pela primeira vez no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Thiago achou que “aquilo parecia um shopping”, enquanto colegas que vinham de escola particular reclamavam “que aquilo era um horror” por causa do calor (não há ar condicionado), das goteiras e de outros problemas de conservação.
Ele conta à BBC News Brasil que quando anda pelo campus muitas pessoas o encaram. “Muitos olham com olhar de medo – achando que eu vou roubar. Outros tiram sarro, fazem comentários maldosos.” , diz ele. “As pessoas de classe média não acham que alguém como eu, com meu estilo, pode ser inteligente, pode estar nesse espaço.”
Thiago estudou a vida inteira em escola pública – “Faltava papel higiênico, faltava professor, giz, tinha dias que não tinha merenda” – e relata as dificuldades financeiras que enfrentou para chegar onde chegou. “Teve épocas em que a gente estava recebendo comida da igreja”, conta. Hoje, sua mãe trabalha como faxineira, e o pai conseguiu se formar na faculdade depois de adulto – mas trabalha como atendente em um posto de saúde.
Thiago estuda à noite e trabalha como jovem aprendiz de manhã. Ele acorda às 5h30 da manhã e chega em casa, atualmente em Guarulhos, meia-noite e meia. Passa cerca de 5h por dia no transporte público. “Às vezes, eu fico o dia inteiro morrendo de sono e não consigo nem estudar. E no ônibus eu vou de pé, super apertado, não dá pra estudar.”
“Quando se fala em inclusão no ensino superior público, a questão do acesso é central, mas não é a única”, afirma Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva. “É preciso reforçar políticas de acolhimento e permanência estudantil”, diz Meirelles.
Para ele, o fato de a universidade não ter sido “originalmente pensada para acomodar quem trabalha” é um dos principais problemas dos alunos de baixa renda, que precisam eles mesmos se manter e muitas vezes até ajudar a família. “Eles não podem fazer cursos integrais e não têm tempo para estudar”, diz. E também não conseguem aproveitar uma das principais vantagens da universidade pública em relação à rede privada: o rico ambiente de desenvolvimento extracurricular
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Com informações de Uol
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