Por Patrícia Dantas
O que é a Felicidade, ao pé da letra? Cada um responderia de um modo um tanto quanto universal, mas outros prefeririam logo tocar na sua sensação de grandeza da felicidade mais íntima. Porque toda e qualquer pessoa é um mundo à parte – muitas vezes intocável, intransponível, irreconhecível. Um mundo que parece se bastar ao propósito que é viver. A irradiação.
Trocar histórias de lugar com pessoas pode ser uma ótima imersão nessa felicidade que muitas vezes depende do roteiro atual e da extensão da gente – da possibilidade de ser o que se espera ou acredita de si. Mas é no outro que vamos ao nosso complexo universo refletido – talvez nesse amor apegado que não dá explicação de como chegou até a sua porta, devagarzinho, flanando, sem pretensões de machucar e fazer sofrer, mas de ampliar o ser que o tocou profundamente.
Pensamentos soltos, um quarto na penumbra, a madrugada que cai ao longo de um dia inacabado, a insônia que ataca, planos de um futuro mais instigante, uma taça de vinho ao lado da cama, a idade que chega sem avisar o quanto de chão ainda temos pela frente; é o absurdo solto e veloz dentro de nós; o vulcão que carrega nosso nome, literalmente.
E há em cada dia muito mais para se descobrir, como uma infinita vocação para desvendar o mistério maior por inteiro: a infiltração nos poros que não é rasa, não é passageira, nem é tão familiar a ponto de sabermos provocá-la com nossas angústias imediatas.
Somos cada partícula desses poros que transcendem nossos limites extremos. Quantas vezes nos vem a inquietação: “Quando foi que me ultrapassei? Quando perdi a vocação de me conter dentro do meu corpo, de não extravasar o que há de mais essencial em mim?” “Quando foi?” Tudo fica e permanece tão sem resposta.
Katherine Mansfield em sua extrema invocação da Felicidade se indagou em sua criação “O que fazer se aos trinta anos, de repente, ao dobrar uma esquina, você é invadida por uma sensação de êxtase – absoluto êxtase! – como se você tivesse de repente engolido o sol de fim de tarde e ele queimasse dentro do seu peito, irradiando centelhas para cada partícula, para cada extremidade do seu corpo?” Aqui também há a extrema imersão nesse êxtase! Quando, quando por mim e pela angústia do meu encontro com o eu, por fim, “engolirei o sol de fim de tarde?”
A mim, só resta poder sentir vez ou outra as partículas do meu corpo se moverem como nunca se moveram antes – radioativas, magnéticas, cheias de mais vida e insanas -, por não entenderem, de forma tátil, a imensa capacidade de sentir o mundo todo vivo transbordar como o leito de um rio. Vou me sentindo, tateando, escavando até adquirir a forma de uma minúscula compreensão.