Laços de sangue não são necessariamente de amor

Por Adriana Vitória

Além de ter lido muito a respeito e ter experimentado vários tipos de terapia, como um quadro inerte na parede, durante anos, observei atentamente historias que amigos e desconhecidos me relatavam e, sem sombra de duvida, nossas questões principais são, o que chamo de ” o equívoco da fonte”.

No cerne familiar nascem as carências, culpas, frustrações e esperanças de que o outro mude de alguma forma.

Muitos de nós passam a vida esperando para sermos amados. Tendemos a esperar que o amor venha de fontes muitas vezes secas para nós. Crescemos esperando que nossos pais, irmãos e avós nos amem incondicionalmente e que a reciproca seja a mesma, mas não é. Queremos acreditar que o amor deve vir, quase que obrigatoriamente, das pessoas denominadas “família”, e esta é a causa do maior sofrimento para a maioria de nós, e sua ausência, geradora de culpas quase indeléveis.

Nossa civilização, mais especificamente a ocidental, determinou funções a serem exercidas a todos os papéis dentro da hierarquia familiar.

As sociedades vem passando estes conceitos errôneos e equivocados geração após geração. Até que alguém se questione e interrompa este processo neurótico e passe a entender que afetos não se determinam geneticamente, inúmeras famílias estão fadadas a viverem no caos.

Podemos querer bem a aqueles com os quais convivemos nos primeiros anos de nossa vida e NÃO necessariamente amá-los ou sermos amados.

Muitos padastros, madrastas, tios, estranhos, podem amar mais os filhos de seus conjuges e amigos do que seus supostos pais muitas vezes ausentes.

Podemos ter um avô como figura paterna, um amigo que amamos mais que todos nossos irmãos e por ai vai.
Ah! O amor ! Este sentimento mal compreendido e freqüentemente confundido pelas nossas carências.

Ouço amiúde pessoas atônitas exclamando sobre como pode um filho não amar um pai, a mãe ignorar um filho e etc.

Julgamos pessoas com nossos preconceitos quando, muitas vezes gostaríamos de ter a coragem delas e nos libertarmos das amarras dos laços sanguíneos que, muitas vezes nos sufocam.

Compreender que aprendemos com a adversidade, que a realidade, apesar de muitas vezes parecer dolorosa é sempre melhor que a fantasia, que as figuras que nos foram impostas também têm a nos ensinar e que aceitar a inexistência do amor não é o fim do mundo, nos da a chance de encontrá-lo e tornar nossas vidas mais consistentes e felizes.







Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.