Por Gabriela Gasparin
A vida às vezes nos dá a chance de fazer certas coisas que a gente tem certeza que não tem “gabarito” para tal. Por exemplo: quem sou eu para entrevistar Leonardo Boff sobre Deus e a existência humana? Bom, uma jornalista que estava no lugar certo na hora certa.
O filósofo, teólogo e ecologista fez uma palestra recentemente na minha terrinha, São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lá fui eu, a convite de uma querida amiga, para ouvi-lo falar sobre sustentabilidade.
Para quem não sabe, além de teórico da Teologia da Libertação, Boff é bastante ligado a causas sociais e a questões ecológicas, tendo escrito inúmeros livros sobre ecologia.
E é por isso que, nas palestras sobre sustentabilidade, ele mistura de tudo um pouco. Relaciona numa fala só a teoria da evolução de Charles Darwin com a existência de Deus, citando versículos bíblicos. Fala da importância da circulação de energias positivas no mundo para um futuro mais “esperançador”. Cita o consumismo desnecessário dos dias atuais, que abala a vida no planeta. Fala do respeito ao outro e à natureza. “Sustentabilidade é tudo o que fazemos para garantir a vida sobre a Terra”, sugeriu.
Ao final da palestra, aproveitei o momento em que Boff autografava livros para tirar dele algumas palavras sobre o sentido da vida. É claro que esperei o fim da fila de autógrafos para ter a chance de, meio sem jeito, lançar minha pergunta. Eis a resposta que ele deu:
“Eu acho que o sentido da vida é viver, viver com toda a simplicidade, respeitando a lógica da vida. A vida tem seus momentos de sombra, seus momentos de luz, mas são sempre chances de crescer e fazer a vida irradiar. Nós não vivemos para morrer, nós morremos para ressuscitar, para viver mais e melhor.”
Vida eterna
Esperançoso, ao final da palestra Boff disse crer que a sociedade caminha para uma nova era, em que nos preocupamos cada vez mais com o cuidado com a natureza. Como ele reforça muito a preocupação com a Terra, atentando-se a todos os seres vivos, perguntei a ele se acreditava que a vida é um ciclo eterno que se renova por meio da natureza (uma crença minha, confesso).
E, na minha modesta opinião, a resposta que ele deu sobre “vida eterna” vai, de certa forma, ao encontro da minha ideia – só que em outras palavras. “Eu acho que a vida não é nem material, nem espiritual, a vida é eterna. Por isso o nome principal de Deus, para todas as religiões, é vida, fonte de vida. Então eu acho que [quando a gente morre] nós vamos ao encontro da fonte que nos vai rejuvenescer e nos faz mergulhar nessa vida, para que ela seja mais plena e mais radiante e a gente acabe finalmente nos braços de Deus, que é pai, mãe, vida, bondade. E o Deus vive verdadeiro”, declarou.
E o que é Deus? – perguntei. “Deus é um pai maternal e uma mãe paternal, ele é tudo isso, mas muito mais do que isso, o que nós não podemos dizer, porque será talvez a grande surpresa quando encontrarmos e cairmos nos braços desse Deus, que é essa energia poderosa e amorosa que sempre nos sustenta e nos ama.”
Bom, e a entrevista que ele me deu foi curtinha e acabou por aí… (a sorte foi boa comigo, mas nem tanto, e ele precisou dar outra entrevista!). Empolgada que estava com o tema, aproveitei para rever um depoimento dele no documentário “Eu Maior” (que fala sobre a busca do autoconhecimento). Encontrei um trecho interessante sobre Deus versus o homem.
“O ser humano não tem só fome de pão, que é saciável, mas tem fome de beleza, de transcendência, do infinito. Essa fome não pode ser saciada por nada que existe, ela transcende todas as dimensões”, declarou. “Eu acho que o ser humano só realiza a sua identidade profunda se ele equilibrar e buscar realizar as duas fontes, uma que é saciável e se dá no espaço do tempo, e a outra que é insaciável e se dá pelo espaço da transcendência, da comunhão com o infinito, da abertura para aquilo que nós e as religiões chamamos de Deus.”
Na mesma entrevista, o teólogo comentou sobre a ligação das atitudes do ser humano e seu reflexo à Terra, tema relacionado ao do início deste texto. E termino com essa bela frase para que fique a reflexão em cada um:
“Homem vem de homus, terra fecunda, terra fértil. Se nós estamos doentes, adoecemos a Terra. Se a Terra está doente hoje pela excessiva agressão industrialista, pelo desflorestamento, pelo mal trato que fazemos das águas e dos solos, isso se reflete em nós, na perda do equilíbrio e num mal estar generalizado da cultura. Então, felicidade, saúde do planeta e a saúde do ser humano vão juntas. Não podemos ser felizes num planeta infeliz.”
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