A liberação da atividade dos cassinos continua sendo tema de debate na mídia nacional. Tal como acontece com as apostas esportivas, o debate sobre os cassinos é um sinal de que algo está mudando na forma como a sociedade brasileira se relaciona com esse fenômeno. Os cassinos são debatidos já não no plano moral, mas no plano do desenvolvimento econômico e social. Até os políticos mais conservadores, como Crivella, veem benefícios nisso. O que isto diz de nossa sociedade?
A internet veio mudar imenso a relação da sociedade brasileira com os jogos de cassino. O cenário social e tecnológico que existia em 1946, quando o presidente Dutra proibiu a atividade dos cassinos, pertence totalmente ao passado. Nossos antepassados mal poderiam acreditar no próprio conceito de internet.
Antes, o brasileiro precisaria ir no estrangeiro para acessar um cassino, ou então se arriscar em estabelecimentos ilegais, de fraca qualidade, onde o usuário estaria sujeito à ação do pilantra gerenciando a casa – se o cassino era ilegal, porque deveria ele agir de forma reta? – e da polícia, tentando acabar com o crime. A internet acabou com isso; qualquer cidadão com um computador ou um celular com ligação à internet pode agora acessar cassinos legais e licenciados (de acordo com as leis de seus países de origem), atuando para uma plateia internacional.
Internacionalmente, o jogo vem tendo cada vez mais aceitação. Estão em clara minoria os países onde os jogos de fortuna são sujeitos a um nível de proibição tão extremo como no Brasil. E a maioria deles estão situados fora do Hemisfério Ocidental, onde só Cuba e a Nicarágua procedem de forma semelhante. E parece estranho que o Brasil atual esteja ao lado de Cuba em alguma matéria.
É certo que, nos Estados Unidos, a maioria dos estados proíbe o jogo. Todavia, entre Las Vegas (situada em um estado, o Nevada, onde o jogo é obviamente legal), Atlantic City, as reservas indígenas e o jogo online, os americanos têm de fato acesso a jogos de cassino legalizados. A sociedade americana, como um todo (e também por via de sua estrutura política federal), consegue viver bem com essa aparente contradição.
Em muitos outros países, o cassino é visto como uma foma de atrair turismo. Há mais de um século que é assim que funciona no Mônaco; Portugal, outro “clássico” dos cassinos (você sabia que o primeiro livro sobre James Bond foi inspirado no Cassino Estoril, em Lisboa?), tem 12 estabelecimentos funcionando para ajudar a dinamizar sua atratividade. E também regulou a atividade dos cassinos online, pois não vale a pena evitar a realidade – as pessoas estão jogando.
A internet e a consciência de que o mundo está caminhando no sentido de uma maior liberação, e que está conseguindo viver com isso, ajudam à mudança social. Em 2018, uma enquete do Paraná Pesquisa mostrava que já tinha 45% de brasileiros favoráveis ao fim da proibição, contra 45% se mantendo firmes (e 10% sem opinião).
Não estará o Brasil mais disponível para mudanças, depois de interiorizar e compreender que uma determinada mudança não é assim tão agressiva para seu modo de vida habitual?
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Imagem de capa: Mikechie Esparagoza from Pexels
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