Aprendi quando criança que ser responsável era entregar o dever de casa na data solicitada e olhar para os dois lados da rua ao atravessar. Quem me ensinou isso foi a escola e os meus pais.
Com o passar do tempo, ser responsável passou a ser não faltar no trabalho por mais que sua cama esteja boa e, não dirigir bêbado, por mais que você considere que está apto para a corrida maluca do momento.
E assim permaneceu durante muito tempo minha concepção de responsabilidade, se atendo ao cumprimento das minhas obrigações e me mantendo viva.
O interessante sobre este último viés é que, com o tempo, mesmo que ainda muito limitadamente perto do significado verdadeiro, houve uma evolução. Antes, a menina desatenta tinha apenas que olhar para os dois lados da rua e se preocupar consigo, hoje ela já olha para os dois lados da rua preocupada com os pais, amigos e até uma senhorinha que se locomove bem devagar.
A noção de responsabilidade, naturalmente, expandiu com a noção da vida em sociedade.
No entanto, o que a escola não ensina, nem os pais e nem a vida em sociedade ensinam é o verdadeiro significado de responsabilidade. O que significa que o receptor principal ainda é você, mas por outra lógica, pela lógica do outro.
Desnude-se do egoísmo de querer se salvar e a quem você ama, ou do medo de levar ocorrência ou perder seu emprego. Tire sua convivência em sociedade e as regras mínimas por ela impostas. Você ainda vê alguma responsabilidade?
Sim, eu vejo. A única verdadeira. Aquela que significa liberdade
A responsabilidade sincera, de quem sabe que tem responsabilidade com o mundo, mesmo sabendo que o mundo não responderá com reciprocidade. É a responsabilidade de assumir a consequência dos seus atos porque, sinceramente, não existe outra pessoa que assumirá.
Mas, principalmente, trata-se da responsabilidade com o outro, porque a diferença entre você e o outro é uma questão de posição, um na frente e outro atrás, da película do espelho.
Por que então o receptor principal ainda é você? Porque ninguém faz nada com o outro, sem antes ter feito consigo mesmo. Toda raiva, dor, desamor que é transmitido de uma pessoa a outra foi, antes de mais nada, sentido e sofrido por este alguém.
Entendo que tudo se resume a energia. Aquilo que Você emana, antes de externalizar, teve como fonte criadora você, e você é você, mas também é o outro e todos juntos, desde a criação desta energia até………..
Tome e aceite responsabilidade por tudo que você faz, e pelo que o outro faz a você.
Dói?
Não é para doer, é para se ter consciência de que somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos, ou não…por aquilo que plantamos, ou não…
Mas que principalmente está somente em cada um de nós, e em nós todos, o poder e a força para mudar!
E isso, além de uma tremenda sorte, é ser livre, como ninguém que coloca no outro a responsabilidade por sua ações um dia será!
Amém!
Até mesmo porque, já pensou depender daquele velha mente com opinião formada sobre tudo, para poder ser você?
Marcella Starling
É mineira e paulista de coração. É advogada e estudante de economia. Está tentando ser aquela pedra jogada ao rio, que gera pequenas ondas ao redor.
Leia mais textos da autora em seu blog The Shrinking Pants