Ah, o apego…Apegamo-nos a ideias, escolhas, status e projetos de vida que fizemos há décadas sem perceber que aquele que um dia fez essa escolha já não é a mesma pessoa.
Um mundo de opostos nos circunda e aguarda ansiosamente para ser visto e descoberto. Liberdade é poder escolher… e não sentir culpa por isso (ou lidar com ela, que seja!). Afinal, antes de provarmos ou conferirmos que há vida além desse nosso mundo, é nessa terrinha mesmo que ficaremos fadados a viver e construir nossos caminhos.
Exemplos não faltam de como mudanças, mesmo que radicais, podem ser necessárias e benéficas. Trocarmos de cidade é uma experiência ímpar na formação de qualquer pessoa, mudar de emprego ou terminar um relacionamento ruim são só alguns exemplos.
Tudo muda se permitirmos e trabalharmos para que a mudança aconteça.
Morei em algumas cidades: Itatiba, Campinas, Campo Mourão e Curitiba. Hoje estou de volta a Socorro, onde está minha família, mas amanhã poderei estar em outro lugar vivendo como nômade digital. O que me impediria, afinal, se preciso apenas da internet para trabalhar?
Fiz faculdade, pós-graduações e tudo o que se possa imaginar na área de Psicologia e Saúde do Trabalhador. Amava o que fazia e até acho que era boa naquilo. Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando ingressei no serviço público (que clichê, né!). Pois acontece que exatos 6 anos depois, um dos outros dias mais felizes da minha listinha de grandes momentos foi quando pedi exoneração depois de conhecer a realidade da burocracia, interesses, jogos políticos, falta de reconhecimento e baixos salários.
Mudei de profissão, abri empresa, quebrei o paradigma de uma vida inteira. Antes, quando eu dizia que era psicóloga, havia um certo status e respeito em relação à minha escolha profissional – o que eu achava um pouco engraçado, confesso. Hoje, entretanto, quando digo que sou blogueira e trabalho com sites e outras mídias sociais, percebo caras curiosas que avaliam, por uma fração de segundo, se eu estou bem na vida ou se sou apenas “ferrada e mal paga”…. Quer saber? E daí? Estou muito mais feliz, ganho mais, viajo mais, dou emprego, trabalho segundo minhas regras e organização pessoal. De que importa se alguém acha que eu estou falida?
Mais um exemplo…
O dia em que tirei meu CRP foi um momento de orgulho, afinal, eu era alguma coisa, do ponto de vista do papel social, político e econômico; ser psicóloga me emprestava uma identidade (que a pouca idade não permitia ser completa). Depois de mais de 10 anos de profissão, cancelei o meu CRP e me enchi de orgulho da minha coragem. Não digo isso porque desvalorizo a profissão que acho nobre e transformadora, mas porque poder optar por não usar mais uma identidade, trabalhar em uma determinada área e seguir um novo caminho, para mim, foi mais uma grande e linda vitória. Eu não trabalhava mais diretamente com psicologia. Por que eu precisaria do título ou do registro? Cancelei sorrindo! Anos depois acabei reativando, mas essa liberdade de ir e vir é inestimável.
Existe uma maldição atrelada a nossas escolhas, aos lugares onde investimos dinheiro, tempo e afeto. É como se mudar fosse uma ofensa, um fracasso, um desserviço social.
O mesmo acontece quando a pessoa se separa, termina um relacionamento que trazia sofrimento, e tem queda na renda. Pensem, quanto mais feliz uma pessoa pode ser se abrir mão de alguns benefícios, mas tiver a sua estima e liberdade de volta? O contrário dessa escolha é apego. Permanecer com o que faz mal é validar uma dependência que vai muito além das desculpas usadas (dinheiro, filhos, 20 anos de relação). É um apego com a desgraça, com o sofrimento, com o que está velho e deteriorado em sua essência. Afinal, a pessoa pode ter vivido uma bela relação por muitos anos, mas, se hoje a beleza acabou, por que ficar? O resumo da história é só um, depois que conseguimos nos libertar da relação ruim (mesmo que seja na base da negação inicial, revolta e muito choro), vemos o quanto foi melhor.
Ruim é quando a pessoa não escolhe nada e quer tudo. Quer a esposa e a amante, quer ser psicanalista e jogar tarô, tem 50 anos e faz 50 plásticas porque quer rosto e corpinho de 25.
A mudança liberta, o sofrimento ensina, mas as nossas escolhas nos engrandecem.
E no final do dia, após toda a rotina que tivemos, deitamos nossas cabeças no travesseiro e somos nós mesmos. A questão é o que poderemos responder acerca de algumas questões como: Somos aquilo que queremos ser? Estamos trabalhando para sê-lo? Ou somos apenas o trapo, as migalhas do que deixamos que os outros fizessem de nossos sonhos, por não termos coragem de viver algo diferente?