Por Luiz Gondin de A. Lins
Estava indo para Praia Vermelha, de ônibus. Pensei em como a vida se torna difícil: inflação, miséria, desemprego. E como aplicar dinheiro? Poupança? CDB? Sei lá…
É chegada a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o ônibus pára. Sobe uma senhora de cor, robusta, cega; sua acompanhante é um pouco mais jovem, branca, magra, muda.
Coisa estranha, nunca imaginei um par assim e fiquei fixado nas duas criaturas.
A cega falava com uma voz metálica, quase incompreensível; a muda falava através dos movimentos dos dedos da mão direita, captados pela mão esquerda da cega. E ambas riam, se entendiam, pareciam felizes.
O que para mim não chegava a ser monólogo, para elas era um diálogo maravilhoso.
E eu ali me quedei catatonicamente deslumbrado por aquela cena inusitada, jamais imaginada por mim.
O ônibus chegou à Avenida Pasteur, aproximou-se do Instituto Benjamin Costant. As duas saltaram de braços dados, numa integração admirável, felizes completas.
Cheguei a me envergonhar dos meus sentidos, por vezes mal usados, em outras não usados.
E me esqueci da miséria, da inflação, da poupança e do CDB.
Tinha acabado de aprender uma bela lição de vida.
Ps: O que eu achei bonito foi a constatação do autor sobre a própria limitação e a humildade para confessá-la…achei belo pois sempre que alguém “acorda” para algo e vê a realidade de maneira mais madura e sensível, nasce uma estrela no céu! Josie Conti
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