Em 2017 iniciou-se uma série interessantíssima no Netflix chamada “Atypical”, que conta as histórias e experiências vividas pelo personagem “Sam”, que tem Autismo. É uma série que nos ensina de uma forma profunda e bem humorada como funciona a mente de uma pessoa que tem autismo. Recomendo essa série a todos, mas acima de tudo aos educadores, que lidam constantemente com alunos que tem estão dentro desse espectro.
Na 1ª Temporada há um episódio bem interessante no qual o Sam quer saber se ama a sua namorada “Paige” ou não. Então ele conversa com seus pais sobre isso, pedindo que eles falem sobre a experiência de amor deles, ou seja, o que cada um pensava a esse respeito.
Como ele é extremamente metódico e racional, escreve tudo o que os pais dizem na forma de regras. Daí ele cria as “3 regras para saber se ama a Paige”. Farei uma breve reflexão sobre elas, que achei simplesmente magníficas.
1) Quando você acorda a primeira pessoa que vem em mente é a pessoa amada.
2) Você sempre tem alguém pra contar em todos os momentos, sejam eles felizes ou tristes.
3) Estar com a outra pessoa lhe faz querer ser melhor a cada dia.
Não coloquei de forma idêntica a dele, porque ficaria pouco explicado, mas essas são as 3 regras, que ele vai descobrindo uma por uma até saber que ama a Paige (claro que de acordo com essas regras!).
O amor é algo muito profundo, é algo que vai muito além de um sentimento. Eu considero o amor uma dimensão na nossa vida, algo tão grandioso que os milhões de livros, músicas, programas de TV ou rádio etc, são insuficientes para defini-lo ou esgotar o que ele significa. Aqui estou trazendo outra perspectiva.
A 1ª regra fala principalmente sobre o período inicial de um relacionamento, quando a pessoa está totalmente envolvida pela paixão. Tudo faz lembrar a pessoa amada, tudo fica mais colorido estando ao seu lado. E já tendo me apaixonado diversas vezes, confirmo que isso acontece mesmo. O primeiro pensamento ao acordar é a pessoa amada, e esse sentimento é incrível, quase indescritível. Espero que você já tenha sentido isso ou ainda sinta! Das três regras, essa é a que considero menos relevante, porque passado o período da paixão, eu posso garantir que vem algum pensamento antes de pensar na pessoa amada! Mas é claro que isso não diminui em nada o amor, pra falar a verdade, talvez até o aumente, pois sabemos bem que a paixão é um estado alterado, no qual a pessoa temo lado racional meio esmorecido em relação ao emocional, mas deixemos essa questão para outros textos…
A 2ª regra é linda. Ela traz a noção do sentimento de SOLIDÃO e como lidar com ele. O Renato Russo falou muito bem no final do século XX: “O mal do século é a solidão”… Temos visto cada vez mais as pessoas se isolarem em seus mundos e não mais contarem com o apoio emocional das pessoas amadas. Essa regra pode ser estendida para muito mais além do relacionamento amoroso. O amor pelos pais na grande maioria das vezes traz essa regra sem imposições de nenhuma natureza. É bom demais saber que podemos contar com os nossos pais nos momentos tanto de alegria como de tristeza. É bem interessante! Acabou de acontecer algo de bom como, por exemplo, você acabou de ser promovido à gerente da empresa em que trabalha. Nessa hora, as duas primeiras regras se juntam percebe? Você automaticamente lembra da pessoa amada e já pela o celular pra dizer: “Amor! Eu foi promovido à gerente da empresa! Vamos comemorar indo pro restaurante tal às 19h viu?”.
A 3ª regra é a que considero a mais bonita, porque ela fala sobre o amor na sua dimensão mais transcendente, quando queremos ser a melhor pessoa do mundo para quem amamos e estamos dispostos a trabalhar internamente os nossos defeitos para que eles não atrapalhem o bom convívio. É como se quiséssemos nos lapidar para sermos melhores e mais polidos entende? Sempre que escrevo ou converso sobre isso, me vem em mente a imagem da divina escultura de Michelangelo chamada “Davi”. Ela é, talvez, a mais bela obra de arte do planeta! Ela é um dos maiores símbolos de perfeição que eu conheço. O Michelangelo levou mais de dois anos para terminá-la e trabalhando todos os dias na sua lapidação. Nós somos como esse “Davi”, uma pedra bruta que através do amor podemos nos lapidar e chegarmos ao final da nossa vida mais parecidos com esse “Davi” de Michelangelo. Escrevi um texto especial no blog tempos atrás falando mais sobre isso, se você ainda não leu, recomendo, segue o link do texto [aqui].
Certamente o amor não se resume à essas 3 regras, estou apenas refletindo a partir da visão diferenciada de um adolescente autista numa série americana!
Mais uma vez reforço a sugestão. Assista a esse série, você vai aprender muitas coisas boas e ainda vai aperfeiçoar dentro de si o sentimento de amor a partir das 3 regras do Sam…
Imagem de capa: Reprodução
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