Assisti essa semana a um filme no Netflix que me deixou muito reflexivo. Um filme biográfico que conta resumidamente a história de Margareth Keane, pintora norte-americana que está hoje com 91 anos.
O filme se chama “Grandes Olhos” e tem esse título por causa do estilo da artista de pintar crianças com olhos grandes e bastante expressivos.
Quero de antemão dizer que contarei spoilers desse filme. Portanto, se você ainda não o assistiu, por favor, assista e leia o texto em seguida, até pra facilitar o entendimento ok?
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Margareth é uma mulher talentosíssima e sua arte tem uma originalidade impressionante. Porém, ela tem um defeito que lhe atrapalha imensamente obter destaque com a venda de seus quadros. A insegurança, que é fruto da baixa autoestima.
Ela conhece um jovem aspirante a pintor chamado Walter Keane, e se encanta com seu charme e carisma. Eles começam a namorar e dentro de pouco tempo acabam casando porque ela recebe uma ameaça de perder a guarda da filha para seu ex-marido. Ela estava com dificuldades financeiras e essa era a alegação para que não pudesse ficar com a filha.
De forma meio impulsiva ela se casa com o Walter, fazendo com que facilitasse a guarda da filha e como consequência ela passou a ser chamada por todos de Margareth Keane.
A trama do filme se dá toda em cima da mentira que é construída a partir do sobrenome Keane. Ela assina os quadros assim e nas exposições era o Walter que os levava. Mas sempre que perguntado sobre a autoria, ele dizia ser dele e não dela.
Quero trazer algumas lições de Psicologia que são transmitidas nesse filme.
1) Os opostos se atraem
Ela se sentiu fortemente atraída pelo Walter porque ele mostrava qualidades que ela tinha dentro de si e que precisava desenvolver para se tornar a mundialmente conhecida pintora que é hoje.
Em outras palavras, o Walter foi um grande professor na sua vida, que foi atraído por ela para lhe ensinar a ver todo seu potencial, acreditar nele e se empoderar para revelá-lo para o mundo.
Muito provavelmente a Margareth deve ter sido muito reprimida em sua infância, pois seu comportamento submisso era uma prova contundente de que ela não foi estimulada a mostrar seu valor para todos.
Dessa forma, ela teve que sofrer “o cão que o diabo amassou”, como se diz, para finalmente aprender a colocar limites e não mais se permitir viver de forma submissa (inclusive a palavra submissão significa “viver abaixo da própria missão de vida”). Interessante essa ideia não é?
O ditado que diz que os opostos se atraem é parcialmente verdadeiro. Por quê? Vou explicar. É porque enquanto vivemos sem mergulharmos nas nossas sombras internas, aquilo que precisamos desenvolver em nós vemos nos outros com um olhar meio fantasioso sabe? É esse olhar fantasioso que gera essa atração pelo opostos!
Ela olhava para o Walter e pensava: “Uau! Que homem seguro. Que homem carismático e conquistador. Como ele sabe vender bem a sua arte…”. Porém, ela tinha tudo isso dentro dela, somente estava adormecido e encoberto pelas sombras.
Depois de muitos anos sendo literalmente a sombra do marido, ela decidiu dar um basta em tantas mentiras e revolucionou sua vida…
2) A arte revelava seus desejos profundos
Sua arte era representada por crianças com um olhar triste e misterioso, com olhos grandes e vívidos. Esse era o seu maior desejo, poder ser vista. Os olhos grandes são a sua alma gritando para ser vista e reconhecida. A tristeza e o mistério representam sua vida escondida num atelier que mais parecia uma prisão.
Ela pintava expressando sentimentos profundos e provavelmente se não pudesse expressar seus sentimentos através dos quadros teria deprimido de forma severa ou até mesmo ter dado fim a sua vida.
3) Medo atrai mais medo. Coragem atrai a verdade
Enquanto ela viveu com medo tinha que mentir e criar mentiras cada vez maiores para preservar a imagem do Walter como pintor de sucesso.
Ela desenvolveu um medo terrível e isso só fazia com que ele tivesse mais e mais poder sobre ela. Quando ela finalmente decidiu por ser corajosa, aos poucos tudo foi conspirando a seu favor, inclusive todo o processo judicial que passou para receber o reconhecimento pela autoria dos mais de 200 quadros que tinham o nome de Walter Keane.
4) Pessoas cruéis sempre dão sinais de sua crueldade
Ela soube muito cedo que Walter era um trambiqueiro, pois via que ele falava dos quadros fingindo ser o autor por trás daquela beleza. Ela foi permitindo que ele mentisse uma, duas, três vezes, até que tudo tomou uma proporção catastrófica.
Esse filme mostra que, se nós deixarmos nosso lado mais intuitivo em ação, saberemos quem são essas pessoas muito antes de estreitarmos laços com elas. Sei que no caso dela isso não seria possível, porque ela precisava passar por tudo aquilo para se empoderar.
Por essas e outras que insisto sempre na importância de buscarmos o autoconhecimento, porque mergulhando dentro de nós mesmos e iluminando nossas sombras, fica cada vez mais fácil identificar pessoas cruéis que queiram se aproveitar de nós ou nos prejudicar.
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Há muitas outras lições importantes nesse filme. A história de superação da Margareth é muito inspiradora e esse filme vem nos ensinar a olharmos nossas virtudes, qualidades e potenciais com grandes olhos vívidos, olhos carregados de amor próprio.
Quando nos amamos de verdade passamos a querer perto de nós também pessoas que nos amem de verdade. É um processo de atração magnética que tão lindamente a Psicologia e grandes autores nos ensinam.
Se observarmos com carinho, não só o filme ou a querida Margareth, mas a vida nos ensina a maior de todas as lições: aprender a amar, o objetivo maior de todas as experiências…
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Para pensar mais sobre o tema, indicamos também o vídeo dessa semana da Fabíola Simões.