Lições de uma grande transformadora: Elizabeth Kubler-Ross

Por Rita de Cássia Macieira

“As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram o sofrimento, conheceram a derrota, conheceram o esforço, conheceram a perda e encontraram seu caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa. Pessoas bonitas não acontecem por acaso…”
Elisabeth Kübler-Ross

O significado da borboleta como símbolo de transformação é amplamente conhecido e utilizado há muito tempo. No entanto, coube a Elisabeth Kubler-Ross utilizar amiúde o ciclo de vida da borboleta como metáfora para a morte.

Nascida em Zurique em 08 de Julho de 1926 e falecida em 24 de Agosto de 2004 em Scottsdale no Arizona, Elisabeth Kubler-Ross, pode ser considerada uma das grandes transformadoras do século passado. Ela mesma, assim como a borboleta que ela tanto utilizava como simbologia, realizou, causou e viveu muitas e profundas transformações.

Psiquiatra e autora de mais de 20 livros, dentre eles “Sobre a Morte e o Morrer”, traduzidos em vários idiomas, dedicou grande parte de sua vida a entender e acompanhar aqueles que estavam morrendo, ajudando-os na aceitação na morte próxima e no momento da transição.

Afirmava não temer a própria morte e desejava seguir somente aquilo que  acreditava. Segundo E. Kubler-Ross, “a vida não acaba quando você morre. Ela começa”.Em seus últimos anos de vida, sofreu várias complicações em sua saúde, que a debilitaram profundamente. Uma vez disse a respeito do impedimento de realizar sua própria morte: “Eu sou como um avião que deixou o hangar e não levantou vôo. Eu preferia voltar ou voar para longe”.

Muitas de suas preocupações eram voltadas para os profissionais de saúde e para os cuidadores daqueles que estavam próximos da morte Mas também para aquilo que estes poderiam dizer ás pessoas que estavam vivendo a experiência de confronto com uma doença séria. E ainda, o que dizer ou não para pessoas enlutadas. Por isto, criou algumas orientações livremente traduzidas abaixo:

Profissionais e Cuidadores:

1.    1.      Seja cuidadoso com o que você diz. Tente evitar clichês tais como:

“É como Deus quer” ou “Deus tem um plano”.

“Ele/ela está em um lugar melhor”.

“Deus precisava de um anjo”.

“Tudo acontece por uma razão”.

“As coisas serão sempre para melhor”.

“Você é jovem. Pode ter mais filhos”.

“Você não se sente grato por ter duas outras crianças?”

“O tempo curará”.

“Você tem que ser forte (por sua esposa, marido, filhos)”.

“Seu filho, esposo(a), pai/mãe não quereriam ver você mal”.

“Você não superou isto ainda?”

“Pelo menos não foi a outra criança”.

“Pelo menos eles não sofreram mais”.

“Você não deveria ficar triste. Foi o melhor”.

“Você pode tentar outra vez”.

“Pelo menos eles viveram uma vida boa”.

2.    2.      Ajude nos Rituais de Facilitação

Cada cultura determinará a natureza e a extensão do ritual. Seja sensível às necessidades de grupos diversos. Estes rituais podem incluir:

– Banhar o falecido

– Vestir ou desvestir o falecido

– Segurá-lo por um período de tempo extenso

– Conversar com o falecido

– Beijar e examinar o falecido – “Eu queria olhar seu corpo. Tocá-lo. Acho que eles pensaram que eu estava louco”.

– Embalar o falecido em uma cadeira de balanço – “Eu nunca o embalei. Isto feriu-me muito tempo.Todos os pais não deveriam ninar seus filhos sempre se é só para dizer adeus?”

– Pegar fotografias e vídeos

– Tomar uma mecha de cabelo, roupas ou outra coisa pessoal do falecido.

Extraído a partir do “O Poder da Compaixão: Uma Nova Atitude em Cuidados de Saúde”de Joanne Cacciatore, inspirada por Elisabeth Kubler-Ross, © 2003.

1. Seja honesto com os membros da família. Comunique às crianças o prognóstico ou a morte, gentil mas honestamente. Encoraje-as a fazerem perguntas e esteja com elas. É importante para elas sentirem que não estão experienciando este trauma sozinhas.

2. Compreenda o processo de luto e seja um facilitador efetivo nele.

3. Entenda o verdadeiro significado da Teoria dos Estágios de E. Kubler-Ross

4. Ajude dando suporte às crianças enlutadas da família tanto quanto pais e avós. As crianças estão freqüentemente sofrendo uma imensa confusão e dor e elas precisam do suporte gentil de seus cuidadores.

5. Ofereça explicações médicas utilizando termos para leigos. Não use vernáculos clínicos. Mantenha-se simples, honesto e inteligível.

6. Assegure-se de só propor autópsia e doação de órgãos ou tecidos quando for culturalmente apropriado.

7. Cuide de seu próprio luto!

E. Kubler-Ross criticou duramente o sistema de saúde americano e a falta de cuidados recebidos quando de uma de suas internações. Afirmou não ter recebido no hospital uma real compaixão e empatia, ou simplesmente, ter alguém para conversar ou segurar-lhe a mão.

Ressalta que é importante para os indivíduos da área de saúde trabalhar para as pessoas, para o bem das pessoas, com todo o seu coração e alma. Assim amando seus trabalhos, a compaixão os envolverá naturalmente. Segundo ela, a jornada da saúde começa em amar seu trabalho, amar sua família, amar seu país e por último, amar uns aos outros.

Fonte indicada: IJEP

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