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Lições que eu não aprendi com a minha avó

Sei lá, deu vontade de escrever! Um formigamento nos dedos, uma alergia interna, um infinito de pensamentos confusos e complexos sentindo a necessidade de se organizar, de dar vida a algo. Acho que li demais, é isso! Sempre que leio sinto um fio se desenrolar em minha mente, faço links, amarro aqui, amarro ali, até sentir que não há espaço suficiente para concluir meu bordado, senão no papel.

Minha avó sempre dizia: “– Menina tem que aprender a bordar!”, acho que nunca aprendi, mas, desde então tenho tentado, talvez não da maneira padrão, porém, sem nenhum equívoco na escolha, ela diz: “– Tá bonito minha filha!”. Com orgulho, sim! Mas não por ter me ensinado como dar este ponto, acima de tudo, por eu tê-lo descoberto sozinha, por ter entendido que não há limites na arte, nem mesmo na de bordar, o fio não precisa necessariamente ser do novelo de lã, nem daquela linha cintilante que eu não sei o nome, o fio precisa vir de você! É a sua conexão com o mundo, é a sua expressão da vida.

Tem gente que puxa o fio pro papel, tem gente que puxa o fio do violão, tem gente que usa os fios do pincel, tem gente que faz seus próprios fios com os pés e com as mãos, mas no fundo a gente sabe que esse fio é mais longínquo, que vem lá do imaginário, para além da linha do horizonte que é traçada para os olhos confiantes, é um fio que puxa não sei de onde, e que segue um ritmo desordenado, mas não bagunçado, apenas livre, e quando esses olhos confiantes desconfiarem do que há por trás de toda essa realidade padrão, sentirão o peso de suas linhas caírem e percorrerem ao encontro do novo, do desconhecido.

Eu não acredito em gente que não tece fios, que não borda páginas, que não amplia a visão, não que deva ser tudo à minha maneira, não! Não precisa se encaixar, na verdade, não é para se encaixar, mas, sobretudo se exceder, exalar, sair do cânone, todos precisam sentir essa vontade de transbordar, pois viver é se expressar-se e vice-versa.
Eu senti isso hoje! Assim, sem motivos. E deu vontade de completar meu enxoval, para o meu casamento com a vida, vai demorar, eu sei! Mas eu não tenho pressa.

Hulle Horranna

Nasceu em Jacobina, também conhecida como cidade do ouro, chapada diamantina, desde pequena observava o mundo com lentes incomuns e criativas, a arte lhe inspirou em diversos seguimentos no decorrer do seu aprendizado, contribuindo para a construção se uma personalidade sensível e extremamente critica. Atriz, poeta, e ilustradora por ocasião. Participou da Antologia Fragmentos com 10 poemas de sua autoria, pretende lançar um livro em breve, mas, enquanto isso dispara suas letras, junto a um amontoado de sentimentos em uma página do facebook chamada Zona de Conforto.

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