Por João Marcelino
Recentemente em uma ida à biblioteca aluguei a obra Palomino, da americana Danielle Steel (foto). O livro, em inglês era conservado, mas bem antigo. Como fã de obras de romance, e por ter gostado de outros livros da escritora que possui uma lista enorme de obras publicadas, estava ansioso para iniciar a leitura. Mas, ao abrí-lo, um fato cômico: Caiu, do livro, uma nota datada de 22 de dezembro de 1995, com a seguinte escrita: “Truly one of her most boring books” (verdadeiramente um de seus livros mais entediantes).
Achei a nota hilária porque muitos leitores não gostam das obras de Danielle, considerada pioneira das histórias de romance “melodramáticas”. A nota, um tanto crítica acabou suscitando para mim um tema que particularmente considero importante: Por que as pessoas se acham aptas a julgar alguém pelo seu tipo favorito de leitura?
Gosto de ficção e romance. Li Crepúsculo e não o odiei, diferente da grande parte opinativa da internet (aliás, poucos desses realmente tiraram seu tempo para ler). As pessoas se preocupam demais com a leitura alheia em um país que simplesmente já não gosta de praticar o hábito.
A hipocrisia é imensa, e os números são assustadores. Provavelmente a metade das pessoas que dizem para você que leem assiduamente, não tocam nas páginas por dias. Uma pesquisa realizada em 2009 apontou que 77 milhões de brasileiros não leem livros regularmente. 77 milhões de pessoas preferem assistir sua novelinha, possuir hobbies bem menos úteis e/ou interessantes ou simplesmente encontram uma justificativa para si mesmas sobre a ausência de leituras regulares.
“Não tenho tempo” é a mais comum delas, e a minha favorita. Porque todo mundo que quer, tem tempo. Há dias em que leio poucas páginas, ou um capítulo. Se a necessidade exigir, até menos. Mas sempre tiro um tempo para ler um pouco. Sempre há tempo.
Ao mencionar a nota encontrada em Palomino, não pretendi necessariamente criticar o indivíduo que a escreveu simplesmente pois discordo do gosto literário dele. Pelo contrário. Encontrei-a numa página bem perto do final do mesmo, então posso acreditar que ele ao menos se deu ao trabalho de ler antes de xingar. E é essa a questão. Poder falar com argumentos. A gente não vê isso na grande maioria, infelizmente.
Mas agora: Num país que visivelmente tem preguiça de exercer um dos hábitos mais importantes para o desenvolvimento social e intelectual, por que tanta gente se mete na leitura alheia? Não vejo outra forma de colocar a pergunta.
Xingar sem necessidade um livro, ou o autor, por pior que o mesmo seja, é estupidez. O tempo que se gasta pra fazer piadinhas com a americana Stephenie Meyer (criadora da série Crepúsculo) e suas obras, por exemplo, ia ser muito melhor aproveitado se usado pra incentivar alguém a ler.
Não criei este texto para defender assiduamente obras mais impopulares entre leitores (ou pseudo-leitores), e sim defender aqueles que, assim como eu, as apreciam. Foi graças a séries como esta que muita gente se iniciou na leitura, e leitura sempre vai ser cultura, não importa se é uma revista, um jornal, ou um romance adolescente.
Enquanto terminava este texto, lia Palomino, o livro onde encontrei a nota. Para a minha surpresa, era bom. Como disse anteriormente, o cidadão que escreveu a nota não gostou, mas provavelmente o leu.
Antes de criticar certos livros, todos poderiam fazer o mesmo.
Fonte indicada: Brasil Post
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