Algum lugar do mundo, 04 de setembro de 2016
Sinto sua falta e está doendo.
Sinto falta do que houve, do que poderia ter sido, sinto mais falta ainda do que não tivemos.
Sinto falta dos cafés que tomamos, das horas que passamos conversando, de como tudo fluía tão bem. Era fácil sorrir ao seu lado.
Sinto falta do seu carinho, do seu abraço e de como me esquecia de tudo quando estava nos seus braços. Sinto mais falta ainda daquele último que nunca me foi dado.
Sinto falta do seu cheiro e da sua segurança, quase arrogante, de quem tinha um medo profundo de ser ferido. Do seu sorriso no canto da boca enquanto falava ao seu ouvido.
Sinto falta de quando me ouvia tocar violão encantado. E a tudo gravava, como se o concerto fosse digno de reconhecimento. Como seria bonita a música que nunca te fiz e cantaria no nosso aniversário e, depois, quem sabe, no nosso casamento.
Sinto falta daquele dia quando me disse que já não saberia mais como viver sem mim. E, sua mão, seu olhar e seu coração transbordavam gratidão e amor. Quando me disse que de seu passado nada sobrara e só tinha olhos para o presente. Entretanto, nunca curou-se daquela dor.
Sinto falta do café da manhã que me levou na cama com um bilhete carinhoso e uma flor. E da massagem que ganhei nas costas, despretensiosamente, naquele sábado qualquer. Com cheiro de chuva, bolo e sua pele. Não houve um só dia assim sequer.
Sinto falta das noites em que me ouvia chorando e, pacientemente, esperava que toda a tempestade passasse enquanto alisava meu cabelo dizendo que tudo tinha jeito. E, então, dormíamos abraçados e trocava o sufoco das lágrimas pelo seu peito. Restou-me apenas o travesseiro.
Sinto falta dos nossos planos de viagem, nossa família, nossos filhos e cachorros. Poderia discorrer em infinitos parágrafos como era feliz e linda a história que nunca tivemos. Poderia falar dos desafios que nunca superamos juntos e dos sonhos que nunca vivemos.
Aqui jaz um amor que acabou antes de começar. Aqui jaz a planta que morreu antes de nascer. Aqui enterro somente expectativas. Que descansem em paz. Mas que os sonhos sejam eternos, porém. Pois sonhos são sementes aguardando um terreno fértil que as queira bem.