Inspirado no texto original de Daniela Fanti

Mãe sempre fica. Fica horas acordada revirando na cama, sem saber se conta o resultado do teste de gravidez ou não. Fica apreensiva, fica feliz, fica com medo, fica sozinha com mil e um sentimentos que ela mesma não reconhece.

Mesmo quando ela compartilha a notícia, ainda assim ela fica. Fica ouvindo os comentários bons e ruins, fica com os enjôos, as noites sem dormir, a desaprovação no olhar dos pais, a dúvida no olhar do companheiro. Algumas vezes, a gravidez é uma benção, mas em outras é um tormento que dura nove meses.

A mãe sempre fica, mesmo quando escolhe que o filho tem que ir pra adoção. Ela fica na memória inconsciente, na criação de cada órgão, fica no DNA. Mesmo que nunca se vejam ou se conheçam, a mãe fica correndo nas veias do filho que foi para outra família ter uma vida digna que a mãe biológica, por N motivos, não pode proporcionar.

A mãe fica, mesmo quando o filho não é aceito pelo pai. Ela fica sozinha nas noites de choro, na amamentação que a enfraquece, no olhar de amor que aquele pequeno ser lhe dá quando respira e lhe confia a vida. A mãe fica quando o pai se arrepende, vai e volta, paga pensão e some. Ou quando ele olha nos olhos daquele serzinho e decide que nunca deveria ter ido, e então fica também. Às vezes fica só pelo filho querido, outras fica também pelo companheirismo àquela mãe até então só com toda a responsabilidade.

A mãe sempre fica. Fica no hospital, de mãos dadas com o seu par, contração após contração, até o grande momento chegar, aquele momento que muda tudo. A mãe fica com a dor do parto, com o corte do cordão umbilical, com o pós-cirurgia, com todas as dores, com os pontos, com o resguardo. Fica sem saber como amamentar, mas amamenta. Fica em dúvida em como desdobrar a primeira fralda, mas aprende ali, na hora mesmo. Aprende tudo como a mãe de primeira viagem que é: fazendo.

A mãe fica quando o filho começa a engatinhar. Fica feliz, fica apreensiva, fica assustada em ver como o tempo passa rápido e em como seu pequeno já cresceu. Fica atônita quando ouve a primeira palavra, fica completamente preenchida quando ouve o primeiro “MÃMÔ.

Num piscar de olhos, a mãe fica com o coração na mão no primeiro dia da escolinha, quando tem que deixar seu bem mais precioso de mãos dadas com a estranha professora. Ela olha pra trás, vê as lágrimas escorrendo no rosto dela e de seu bebê, mas fica firme e vai embora mesmo assim. Afinal, ela sabe que os filhos devem ser criados para o mundo e não para si mesmas.

A mãe fica feliz quando chega a primeira reunião na escola. Fica puta da vida quando chega a primeira advertência por mau comportamento. Fica preocupada quando vê o filho jogando video game com os novos amigos que ela não sabe quem são e de onde vieram. Será que são uma boa companhia pra seu amor maior? Alguns são, outros de jeito nenhum. E a mãe, mais uma vez, fica entre a cruz e a espada por ter que aconselhar, mas com medo de, talvez, também magoar.

Chega o silêncio no quarto, as portas trancadas, as horas na tela do celular rindo sozinho, e a mãe fica sem saber o que está acontecendo. Vê as bochechas do filho rosarem quando pergunta sobre as meninas e sabe que, atrás daquele silêncio, tem a descoberta do amor desabrochando bem debaixo do seu nariz. A mãe fica pensando nos melhores conselhos, se deve impedir ou se deve permitir. Fica lembrando que já teve aquela idade e que qualquer proibição é um tiro no próprio pé. Fica de coração aberto para uma conversa e para orientar sobre o ônus e o bônus da descoberta da vida a dois.

A mãe fica na porta quando chegam os 18 e o filho sai de carro pela primeira vez. Fica acordada esperando ele voltar, e tenta não ficar maluca quando isso não acontece. Fica entusiasmada quando acontece a escolha do curso da faculdade, e finge não ficar surpresa quando, dois semestres depois, o curso é trancado para “ir viajar por ai”. Ela fica com medo, fica em oração, fica com saudades, mas fica torcendo para que dê tudo certo.

Filhos são criados para serem adultos responsáveis, com propósito e com a liberdade de serem felizes. Mas, mesmo quando eles se vão, a mãe fica. Fica no jeito de separar as cuecas por cor antes de colocar na mala. Fica no pedido de salada verde no restaurante. Fica na escolha do chá Vick quando a gripe vem – aquele chá com cheiro de mãe.

A mãe fica quando o filho casa e começa a própria família. Fica na escolha do detergente incolor, na mania de dobrar as camisetas, no passar do creme hidratante nos dias frios para evitar de ressecar a pele, na escolha da maçã fuji na feira.

Um dia, um triste dia, a mãe envelhece e se despede, mas mesmo quando ela vai, ela fica. Fica nas atitudes, nos gestos, nas escolhas, nas lágrimas, na felicidade, na tristeza. Não existe distância, tempo, latitude ou longitude. Vem pro filho uma saudade que machuca, uma ausência que arde e que nada no mundo parece compensar. Mesmo quando ela vai, por ter sido o alicerce da vida para um filho por anos de dedicação e amor, a mãe fica. Fica correndo nas veias, nos pensamentos, nos sentimentos, nas atitudes, no jeito de fazer e de pensar. Fica batendo no peito no mesmo ritmo do coração. No coração de um filho, a mãe sempre fica.

***

Imagem de StockSnap por Pixabay

Ana Carolina Faria Bortolo

Turismóloga e Administradora de Novos Negócios por formação. Escritora, pintora e dançarina por vocação. Planejadora de eventos, bartender, agente de viagens e vendedora por profissão. Garçonete de navio por opção. Vi o mundo e voltei, e de todos os rótulos que carrego na bagagem, só um me define bem: sou uma ótima contadora de histórias.

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Ana Carolina Faria Bortolo
Tags: mãe

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