Por Nara Rúbia Ribeiro
O menino respira forte. Respira a largo, segurando a bolinha de gude na mão. Ele olha o alvo, e reza baixinho para não errar. Olha a bolinha delicadamente presa à ponta dos seus dedos, e… arremessa!
Viver é entregar-se a um arremesso certeiro desse menino: o Tempo. Submetidos à lei da gravidade e das gravosidades do mundo, a vida é o gozo desse breve infinito instante de voo. Pois o alvo do Tempo é a morte e ele não erra nunca.
Na trajetória, não há certezas, não há garantias. Há somente essa limitada liberdade de sonhar a asa, de vislumbrar a paisagem, de apreciar a viagem inventando, em nós, as nossas próprias e momentâneas metas: amar agora, trabalhar agora, perdoar agora, conhecer-se agora, iluminar-se agora, viver agora, ao agora entregar-se.
E ainda que o menino Tempo venha inventar outros arremessos, em vidas ainda não sabidas, o futuro, tal qual o passado, são meras projeções e não podem, nunca, ser maiores que o presente.
O menino Tempo sabe disso. Sabe que todo instante é uma versão da Eternidade esculpida em miniatura, pois não temos nos olhos o preparo para vislumbrar o infinito. E ele nos acompanha orgulhoso de si, na alegria do seu coração puro, infantil. Sabe que esse arremesso é sem preço.
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