Supera em criatividade, inteligência e humor. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é leitura obrigatória para quem aprecia textos leves, porém, substanciosos. Combinação magistral. E tratando-se de Mario Prata ela não é novidade. Um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea é doutor em um dos mais importantes traços da cultura nacional: a arte de falar bobagens. Perspicaz, o mineiro sabe o momento exato de inserir a tirada irreverente. Publicado pela Record, a coletânea com 22 entrevistas, sendo oito inéditas, abusa da originalidade e o cronista garante que foi tudo verdade.
O objetivo maior de um entrevistador é revelar o que há de mais representativo em cada entrevistado. Prata imprimiu em cada uma das personalidades com as quais conversou um tempero particular. Todas as entrevistas possuem um gostinho de Brasil. Da herança portuguesa aos sem fim de idiossincrasias que compõem a identidade brasileira, a sensação do leitor é a de que todos eles são figuraças, cheios de histórias interessantes para serem esmiuçadas.
O escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro entrevista, Pedro Álvares Cabral, Iça-Mirim, Padre Anchieta, Bispo Sardinha, Arariboia, Calabar, Chico Rei, Aleijadinho, Xica da Silva, Dona Maria I, Tiradentes, Dom João VI, Dom Pedro I, Maria Quitéria, Marquesa de Santos, Dona Beja, Madame Lynch, Carlos Gomes, Dom Casmurro, Castro Alves, Rui Barbosa e Charles Miller.
“Como eu ia dizendo, casei com o tio Pedro. Que não tinha mais nada a fazer na vida a não ser sexo. Tive sete filhos com ele em quinze anos. É mole? Agora vê, meu amigo, se não era para enlouquecer.”, disse Dona Maria I, segundo a cultura propagou, a louca. Em algumas passagens, o autor não poupa o leitor de um vocabulário de baixo calão quando o assunto – se realmente se desenrolasse em uma mesa de bar – requereria. E tudo é pela confissão que jamais tivemos.
Mario Prata, por exemplo, coloca Tiradentes na parede quando questiona sobre seus filhos. “Como é que o senhor sabe disso?”, pergunta o mártir. “Nasci em Uberaba, e ela [sobre uma neta, a Carolina Augusta Cesarina] teve alguma coisa com um Prata”, disse. “O senhor está querendo me dizer que é meu descendente?”.
O livro, obviamente, terá mais humor para quem conhecer minimamente a história dos personagens, mas não exclui quem não as conhece. Os mais empolgados até se sentirão inclinados a estudar um pouco mais de história do Brasil. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é a criatividade a serviço da educação, da formação de repertório porque instiga.
Outro show são as ilustrações de Lézio Junior. Formado em jornalismo, trabalha com ilustração para a Folha de S.Paulo. O caricaturista também já colaborou com outros veículos como a Revista Rolling Stone Brasil, Veja, Época, Playboy, entre outros. No livro, apresenta desenhos maravilhosos, todos com algum traço peculiar mencionado na entrevista. Sobre o substancial, os dados históricos contidos nas entrevistas são resultado de uma pesquisa cuidadosa, validada por um time de historiadores: Angela Marques da Costa, Mary Del Priore, Matthew Shirts e Fernando Morais.
Com mais de 80 trabalhos assinados, entre livros, novelas e peças teatrais, Mario Prata deu início a esse projeto quando a Revista Brasileiros o convidou para realizar algumas entrevistas. A proposta da publicação, a priori, era a de Mario entrevistar pessoas vivas, mas o autor fez uma contraproposta dizendo que só entrevistaria só se fossem pessoas mortas.
Com mais de 50 anos de carreira, Mario Prata tem entre os espetáculos de maior destaque “Fábrica de Chocolate” (1979) e “Besame Mucho” (1982). Na literatura, seus livros mais lidos são “Diário de um Magro” (1997), Sete de Paus” (2008) e “Minhas Vidas Passadas” (2011), só para citar três porque a lista é vasta. “Mario Prata Entrevista uns Brasileiros” é para divertir, informar e dar muito orgulho desse homem chamado Mario, um grande brasileiro.
Por Eliana de Castro (Texto reproduzido com a autorização da autora)
Fonte: Setor VIP