Interessante minha reação ao título “A Sutil Arte de ligar o Foda-se” ( Ed. Intrínseca, 2017). Ousado e corajoso, pensei num estalo. Demorei a ler, porque tenho uma grande resistência a livros de autoajuda. Mas, como sou muito curiosa comecei a leitura. O começo ainda, resistente, se mostrou um pouco didático e muito cheio de casos, pedaços ilustrativos de algumas vidas, através dos quais, o autor, tenta nos explicar o lado bom de fracassar, ou seja, ser um fracasso é melhor do que buscar compulsivamente, ser sempre certo, uma pessoa extraordinária, pois é este o mito da contemporaneidade. Vivemos em uma cultura que não nos dá liberdade de sermos apenas nós mesmos: o mais comum dos mortais. Conhecer a simplicidade.
Então, Mark Manson, dentro de sua linguagem comum, longe de ser uma obra literária, passeia pelos obstáculos existenciais pertinentes a nós humanos que pensamos sobre ontem, hoje e amanhã e vivemos um certo grau de insatisfação que nos motiva a encontrar um sentido para nossas vidas.
Assim, Mark nos encanta com sua flauta azul, para o reino do todavia. Ele diz a que veio e vai explicando pouco a pouco suas novas crenças e o porquê destas serem muito melhores do que os paradigmas da sociedade de consumo e a conquista em massa de bens materiais.
Ligar o foda-se permeia todo o livro no sentido, que muito do nosso sofrimento vem de nos importarmos demais com besteiras, trivialidades que nos tornam ansiosos e medrosos, causando uma fobia social, disfarçada de frases feitas, comportamentos moldados pela escola pragmática e sem profundidade que frequentamos: a escola do ter sempre mais porque senão viveremos a falta. Ele prova, dentro de sua tese, que o encontro pleno está em nós sermos nós mesmos, falarmos a verdade, de frente, sem recorrer a subterfúgios para agradar o público, o chefe, a sociedade. Se pararmos para pensar, é muito bom, saber alcançar a sutil arte de dar um basta, deixar de lado a opinião alheia. Este comportamento reflete nossas melhores emoções utilizadas racionalmente, ou seja, deve haver a presença do racional, pois não devemos somente fazer tudo de coração aberto num mundo em que prestigia o modelo das aparências, dos jogos, da superficialidade que não supre o que mais tememos a vida toda: a experiência de sermos finitos e por isto, carregarmos ao longo da estrada a consciência da nossa morte.
Em capítulos bem divididos, Mark insere sua biografia, ou momentos de sua vida decisivos para ele ser o escritor que se tornou sucesso. Ao falar de si, ele nos aproxima de sua trajetória, rebelde, instável, anti establishment e o preço que pagou para ser um cara comum que ousou abrir um blog, com vários conselhos e foi bem sucedido nesta empreitada.
Sem dúvida, o que me atraiu neste livro, foi a mistura do eu escritor, com sua premissa de ir contra o universo de autoajuda abundante em promessas de felicidade, harmonia e sucesso, que na realidade não existem. Para o autor, a felicidade é um problema a ser resolvido e não importa ganhar a corrida, mas sim percorrer com vontade todo o caminho. Este pensamento está muito ligado ao fato de não curtirmos nosso processo de escolhas, nossas dúvidas, deslizes, perdas, indagações sobre o universo e a morte.
Certamente, é um livro que surpreende, pela sua autenticidade. Mark Manson não quer nos iludir com receitas que vendem felicidade. Ao contrário, sua intenção é abrir nossas mentes, para os constantes impasses que nos fazem arrogantes por nos acharmos seres especiais e melhores do que os outros, fruto do pensamento capitalista e consumista atual.
Há trechos sobre sua vida que não poderiam deixar de ser mencionados nesta análise. A morte de um grande amigo e sua depressão que foi um divisor de águas. Sua auto reflexão sobre o que não estava lhe completando, sua vaidade intelectual, seus vícios e irresponsabilidades que foram a luz para uma rica aprendizagem. É bom saber ligar o foda-se para muitas fantasias e decepções. É um sinal de que podemos nos humanizar pelo sofrimento pois este é inevitável. Apenas, o modo como nos revelamos diante da dor, pode dar à mesma, um sentido, pois é pela dor que não se comete o mesmo erro, seja dor física ou moral.
Li o livro de um fôlego só, porque é quase uma conversa com o leitor. Também é forte nas suas críticas de autoajuda e não pretende aparentemente mudar ninguém, mas ensinar a viver com o sentido da finitude e a irreversível morte, pela qual a sombra de todo significado da vida é medido.
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